Numa altura que a maior parte dos eventos estão a ser afetados pelo problema mundial derivado do COVID-19, estivemos à conversa com Hélder “coachi” Sancho para saber o que se passou no qualificador fechado do Minor e de que forma os jogadores estão a lidar com a desistência da ESL Pro League.

Tens passado uns momentos mais complicados com os Sharks, desde a saída repentina de meyern até agora com a desistência da EPL devido ao COVID-19. Falando primeiro do qualificador do Minor, o que aconteceu?

coachi: Eu acho que o fator principal é não sermos muito bons quando somos favoritos e termos alguma dificuldade a lidar com a competição interna. A verdade é que, historicamente, nos Sharks sempre foi assim. Para além de alguma dificuldade na competição doméstica, que já tivemos muitas vezes, temos uma dificuldade incrível nos primeiros 4/5 meses do ano, é sempre onde temos os nossos piores resultados. Somos afetados um bocadinho por problemas de vistos, alguns problemas de entradas nos países e acabamos por ficar um pouco inativos. Sinto que essa inatividade pesou – a última vez que tínhamos jogado um torneio (antes do qualificador do Minor) foi em Dezembro, depois a WESG foi adiada e voltamos a jogar apenas em março, ou seja, 3 meses depois. Estávamos sem ritmo, a pressão sentiu-se porque éramos a equipa favorita, aquela que vinha de torneios mundiais… mas a malta no Brasil também joga bem, há muitos bons jogadores e não fomos para lá a pensar que estava ganho. Aliás, até acho que se tivéssemos pensado assim tínhamos ganho. Eu acho que realmente o problema principal é a pressão que colocamos em nós mesmos para ganhar estes torneios em que somos favoritos e acaba por não correr bem. De forma contrária, os nossos melhores torneios geralmente são aqueles em que não somos favoritos – temos de aprender a jogar e a lidar melhor com essa pressão.

Segundo o que tu me dizes, fico com a ideia que o facto de serem favoritos vos retira um pouco a confiança…

coachi: Não é bem retirar a confiança, eu acho é que torna o fator pressão demasiado grande. Eu quase que sinto nos jogadores… eu tenho mais experiência que o resto da minha equipa, estou habituado a lidar com isso, mas eu sinto que eles se sentem muito pressionados. “Temos treino europeu, somos a melhor equipa, viemos de empatar com Astralis e de ganhar a Liquid, somos mega favoritos, temos de ganhar”, e depois não se ganha a Pistol, começa-se a perder umas rondas importantes, a pressão aumenta e nota-se que fica um ambiente sufocante, fica difícil e os jogadores começam a lidar mal com isso. É um problema, e temos de aprender a lidar melhor, mas eu acho que com mais torneios vamos conseguir fazê-lo.

Não dissemos na altura, até porque não gostamos de falar depois de perder, pois a malta pode dizer que soa a desculpa, mas tínhamos um jogador lesionado. O leo_druNky estava com um problema no pulso, existiu mesmo a possibilidade de ele não poder jogar e ter de jogar eu, ou seja, foi mais uma pressão psicológica em cima dos jogadores por saberem que ele não estava nas melhores capacidades para poder jogar e fê-lo com mais do dobro da sensibilidade normal para compensar os movimentos do pulso. Foi uma situação que nunca tínhamos vivido e a verdade é que atrapalhou.

Mesmo tendo em conta esses fatores, esperavam, de alguma forma, cair do qualificador sem conseguir uma única vitória?

coachi: Não, obviamente que não, nós esperávamos ganhar o qualificador! Nós estamos habituados a ficar à frente das equipas que lá estavam, foi um mau resultado, mas pensamos sempre na “maratona”. O balanço da época é feito no final e já tivemos derrotas parecidas com estas, se calhar não tão rápidas, visto que perdemos logo os dois BO3, mas o que conta é que no final do ano o balanço seja positivo em relação ao anterior. Esperamos agora arrancar para melhores torneios, que devia ter sido na ESL Pro League, mas infelizmente não foi possível.

Como estão os jogadores a lidar com o mau momento?

coachi: Acho que aprender a perder e sofrer derrotas difíceis é importante na carreira de qualquer jogador. Eu tenho mau-perder, detesto perder e acho que alguns jogadores da minha equipa são parecidos comigo nesse aspeto. É uma derrota que é dolorosa, mas é só isso. É uma derrota num torneio, na semana a seguir tínhamos outro, logo a seguir temos a WESG… vamos voltar a jogar torneios grandes. A derrota dói, um ou dois dias, e depois é analisar o que se fez de errado, o porquê de termos perdido e focar logo no objetivo seguinte. Acho que essa é uma das partes boas do CS, não é como no futebol em que  depois estamos à espera até à próxima época para voltar a ter um objetivo. No CS perde-se um torneio, e logo uma ou duas semanas depois há outro e temos de dar a volta à mentalidade, não há tempo para ficar a chorar.

Entretanto, por questões de segurança, decidiram desistir desta temporada da ESL Pro League apesar de toda a equipa já estar na Europa. Como os jogadores regressaram para casa, como vão aproveitar o melhor possível esta fase sem treinos?

coachi: Vamos fazer agora uma pausa, o que não quer dizer que não possamos treinar no Brasil, porque podemos e eventualmente até o vamos fazer, visto que não sabemos como é que a situação mundial do COVID-19 vai ficar. Tivemos de tomar esta decisão porque as fronteiras do Brasil e da Argentina poderão estar na iminência de fechar, ou que pelo menos dificultem a entrada de europeus… O Luken voltou para casa de urgência e mesmo assim teve de ficar 14 dias de quarentena na Argentina, ou seja, imagina isto a acontecer com os jogadores longe das famílias, com medo, para um torneio que já está demasiado manchado, é online, já com muitos problemas… e ainda por cima tínhamos de jogá-lo a partir de Portugal! Havia já demasiados fatores negativos, mas principalmente o medo pela saúde dos jogadores, dos familiares… acreditamos que a saúde e o bem-estar tinha de estar à frente de tudo. A verdade é que fomos os primeiros a tomar essa decisão e logo de seguida outras equipas fizeram o mesmo, e acho que é a correta.

Em relação ao heat, existe alguma dúvida na comunidade até quando é que ele irá alinhar pela equipa. Podes esclarecer a situação?

coachi: Por enquanto o heat é jogador dos Sharks, mesmo que seja por empréstimo vai jogar as competições onde estamos confirmados, não há novidades sobre a situação dele. O passe dele pertence à FURIA e, para já, não vai haver qualquer alteração nesse quadro. Está emprestado aos Sharks e vai continuar a trabalhar para melhorar. Infelizmente, era um jogador que gostaríamos de dar oportunidade de jogar grandes torneios mundiais pela primeira vez e ia ter esta oportunidade na Pro League, que era incrível… infelizmente não foi possível.

Algumas palavras que querias deixar para fechar a entrevista sobre a situação mundial atual e de que formas estás a lidar a um nível mais pessoal?

coachi: Felizmente, no nosso ramo temos a oportunidade de ficar em casa e trabalhar. Eu sou uma pessoa que está a levar extremamente a sério esta pandemia e a necessidade de estar em casa, nem tenho saído. É difícil para mim, porque apesar de ser um “gamer” e treinador dos Sharks, não sou uma pessoa que goste de passar demasiadas horas seguidas no computador, mas estou a seguir todas as indicações à risca, até porque nós jovens temos, na minha opinião, uma importância muito grande nisso e temos mesmo de nos sacrificar para podermos ajudar a população de maior risco, porque vamos ser os principais responsáveis se acabarmos por espalhar o problema por esses grupos. É chato, mesmo em relação à equipa, estamos todos muito tristes por não podermos participar na ESL Pro League, foi uma decisão difícil. Tirando Majors, o maior torneio do mundo é a Pro League, é o que tem um dos maiores prémios, onde estão as melhores equipas, onde há o melhor tratamento para com os jogadores… ou seja, para deixarmos de participar numa é porque estamos com medo do que pode acontecer e estamos a encarar a situação com a seriedade que esta merece.

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