A Newzoo trouxe um novo relatório sobre o mercado e estado da indústria dos videojogos que levanta questões interessantes.

A Newzoo é uma plataforma de análise de dados que se especializa em jogos e esports. Como habitual, por volta desta altura a marca lança o seu relatório e visão sobre o ano anterior com as contas de todas as grandes empresas fechadas.

O deste ano fala sobre os hábitos de consumo de 2023 e lança as previsões até 2026, previsões essas que são menos do que animadoras. O relatório fala de uma descida considerável do tempo médio jogado, que continua a cair desde o pico histórico do início de 2021, aponta a uma desaceleração no número de novos jogadores ano após ano, com tendência a manter-se, aponta a força dos jogos competitivos mais antigos e à dificuldade do novo mercado emergente dos Games-as-a-platform.

Jogos Live-Service estão a ser canibalizados por lançamentos premium

Em 2023 o mercado teve um ligeiro crescimento de 2,6%, para os 93,5 mil milhões de dólares, com o PC a liderar a corrida contra as consolas, 3,9% contra 1,7%. Deste crescimento parece que os grandes vencedores foram os jogos cross-platform, que venderam melhor em PC. Os jogos AAA também tiveram uma boa presença, e segundo o relatório, acabaram por retirar tempo e receita aos jogos live-service, que ao contrário de algumas opiniões, parecem estar a falhar para o formato antigo de lançamentos.

Quanto ao tipo de gastos, as compras dos títulos voltaram a ser a principal forma de gerar lucro em 2023 e equivaleram a um valor bem superior ao de subscrições, microtransações e DLCs. Mais concretamente (relativos aos mercados dos Estados Unidos da América e Reino Unido):

PC
Jogos – 56%
Microtransações – 30%
DLCs – 12%
Subscrições (não inclui passes como Xbox Game Pass ou PS Plus) – 2%

Consolas
Jogos – 57%
Microtransações – 33%
DLCs – 8%
Subscrições (não inclui passes como Xbox Game Pass ou PS Plus) – 2%

Mercado volta a crescimento pré-pandemia, mas arrisca estagnar

A indústria como um todo está de regresso ao saldo positivo e a um ritmo idêntico ao pré-pandemia, depois de uma quebra entre 2022 e 2023, quando as pessoas voltaram a passar menos tempo em casa. Apesar disso, o número de tempo que os jogadores passam a jogar está a reduzir consideravelmente entre médias trimestrais, e o crescimento do número de jogadores também está muito mais baixo do que em números pré-pandemia. No total, prevê-se um crescimento de apenas 1.6% no número de jogadores de PC até 2026, e 3% para jogadores de consolas no mesmo período.

A Newzoo aponta mesmo a que as consolas tenham o maior boom nos próximos 3 anos, dado o lançamento das novas versões das consolas e novos dispositivos, o que vai permitir esta “salvaguarda” do mercado.

Jogos mais antigos carregam o mercado

A tendência da indústria, apesar de todos os grandes lançamentos que abanaram o mercado em 2023, parece tender cada vez mais para jogos antigos. Os títulos competitivos e/ou multijogador como Fortnite, GTA V, Roblox, Minecraft, Call of Duty, League of Legends e Counter-Strike estão a dominar por completo a tendência.

Em análise feita a 37 mercados, da qual se excluem a China e a Índia, países que iriam afetar os números finais especialmente em jogos MOBA e Battle Royale, os jogos com mais de 7 anos dominam o top 10.

No caso do PC, a idade de mercado dos 10 jogos mais jogados em média de utilizadores ativos de 2023 é de 9,6 anos. Os números justificam-se se tivermos em equação a idade desses títulos, como é o caso do League of Legends que já soma 15 anos, o GTA V tem 11 anos, Rocket League tem 9 anos, e o Counter-Strike 2, da qual conta o lançamento do Global Offensive, tem 12 anos.

5 jogos equivalem a 27% do tempo de jogo em 2023

Como método comparativo, os 5 jogos mais jogados da lista com mais de 6 anos equivalem a 27% de todo o tempo de jogo de 2023. Estes jogos são Fortnite (2017), Roblox (2006), League of Legends (2009), Minecraft (2011) e GTA V (2013).

Em contraste, e mais uma vez contra os novos lançamentos, 60% do tempo utilizado em títulos recentes foi dedicado a franquias anuais como Call of Duty, EA FC, NBA 2K, Madden e MLB The Show.

Apenas 8% do tempo de jogo foi dedicado a jogos lançados em 2023. O rei deste tempo de jogo foi o Diablo IV, sendo também o único Live-Service da lista. O restante top 5 teve Hogwarts Legacy, Baldur’s Gate III, Elden Ring e Starfield.

Games-as-a-platform “mataram” o Live-Service

Nos géneros surge um desafio para a indústria que está a ver o empoderamento de títulos como Fortnite e Roblox como bases de criação de mini-jogos, ou até jogos completos, como é o caso do Fortnite. Este género, apelidado de Games-as-a-platform, parece dar uma punhalada no intuito dos jogos Live-Service que prometiam conteúdo “para sempre”.

Isto porque, levanta a questão a Newzoo, no Fortnite e no Roblox, o conteúdo é rápido e fácil de criar pela própria comunidade, algo que os estúdios nunca vão conseguir acompanhar com os processos normais de trabalho. Substituir o Live-Service pelo GAAP, também não parece o caminho possível neste momento, com os dois titãs a dominar o tempo de jogo em todas as plataformas.

Só Third-Person Shooter e Action RPG crescem

O mercado viu também uma contração nos estilos de jogos mais jogados, vendo toda a restante gama de videojogos a cair. Hero-Shooter (Overwatch), Realistic Sports (FIFA, eFootball), Action Adventure e Looter Shooter são os mais afetados com quedas de 10 a 11% no tempo de jogo.

A resistir a esta descida, Adventure Sandbox, guiado por GTA V, Minecraft e Roblox, e MOBA, conduzidos por League of Legends e DOTA2 tiveram a menos descida, apenas de 4%.

No sentido ascendente e guião pelos lançamentos Premium de 2023 está o Action RPG, como titãs como Hogwarts Legacy, Diablo IV e Starfield a liderar a tendência. Já no Third-Person Shooter a acentuada subida de 27% é explicada quase exclusivamente pelo lançamento deste modo de visão na série Call of Duty.

Lê as últimas novidades dos esports aqui.

PUB