O Total War: Pharaoh é o regresso aos jogos históricos da CREATIVE ASSEMBLY, mas será que cumpre com o prometido?
A CREATIVE ASSEMBLY continua a cumprir com o plano de lançamento dos seus jogos e chegou a altura de recebermos mais um título histórico nesta saga. A última vez que tivemos um jogo da série principal com ligação histórica já remonta a 2019, com o lançamento do atribulado Total War: Three Kingdoms. Desde então, a produtora que tornou famosa a fusão de género de estratégia por turnos com estratégia em tempo real lançou um jogo da sua série Saga, Troy, e mais um título de contornos fictícios, Total War: Warhammer III.
A expectativa para este jogo passado na história do Egipto era elevadíssima, dado que Three Kingdoms saiu num estado definhante, acabando por ser corrigido ao longo dos anos, mas vendo muitos dos planos para o título acabarem na gaveta.
Com toda a pressão do seu lado, a produtora que continua sob o guarda chuva da SEGA, avançou com um título passado numa das eras mais requisitadas pelos seus fiéis jogadores, o antigo Egipto. Logo aqui surge uma bandeira vermelha, porque apesar de ser a era pretendida, a CA optou por escolher uma era diferente da que estamos acostumados nas aulas de história, e optou por escolher um período temporal em que esta antiga civilização estava em potencial declínio, com o fim dos grandes faraós, uma território partido e invasões constantes dos “povos do mar”, que nada mais eram que os povos da grécia e das ilhas mediterrâneas.
Foi uma decisão arriscada da produtora de Total War, mas que historicamente faz sentido para encaixar nas mecânicas do jogo. Obviamente que nem todos os fãs ficaram contentes, especialmente quando esperavam ter uma das mais famosas civilizações históricas no seu potencial máximo e lidar com as grandes guerras de expansão deste império, ao invés de tentar impedir a sua potencial queda e lutar pela reunificação. Como fã irredutível da história antiga, esta escolha não me fez confusão e até acho este período um dos mais interessantes do antigo Egipto, apesar de compreender as críticas apontadas.
Quanto ao jogo em si, a CREATIVE ASSEMBLY foi com tudo. Trouxe mecânicas estratégicas, como novas formações, e de evolução de generais, itens e árvore de habilidades, das suas séries Total War Sagas: Troy e Total War: Warhammer, introduziu mecânicas meteorológicas, como tempestades de areia ou temperaturas elevadas, que afetam diretamente, mas apresentou o mesmo motor de jogo de sempre.
É preciso dar o valor onde ele é merecido, e esta produtora tem conseguido levar o seu velhinho TW Engine 3 (2009) ao limite do seu potencial, mas as marcas da idade começam a aparecer. Todas as novidades introduzidas são ambiciosas e pretendem dar uma nova profundidade aos jogos Total War, contudo, começam a ser demasiadas para a interface do TW Engine 3 que está cada vez mais confusa e atolada de botões e informação.
Numa altura em que muitas companhias procuram facilitar o acesso aos seus jogos para acolher novas gerações de jogadores que não querem ter de ler um livro de instruções só para mandar um boneco avançar, a CREATIVE está a seguir o rumo oposto. Como um jogador experiente de títulos de estratégia, até eu passei as primeiras horas do jogo a tentar decifrar os “hieróglifos” que me permitiam fazer as ações mais básicas.
É óbvio que vão haver jogadores a defender o elevado nível de dificuldade de entrada num jogo Total War, mas a verdade é que este continua a afastar potenciais novos jogadores, e os antigos não vão para novos. Eu admito que dediquei uma campanha inteira, onde, claro, saí derrotado, só a aprender as novas mecânicas.
Neste jogo podemos escolher entre oito generais diferentes e aqui a saga não falha. Sejamos um dos generais do Egipto, da região Canaã ou Hititas, cada um dos generais oferece um estilo de jogo completamente novo, cada um com as suas vantagens, com desafios diferentes dependendo da zona do mapa onde começa, e claro, com objetivos de vitória diferentes.
Dado que o jogo se dedica especialmente à história egípcia, esta é também a região que conta com o maior número de personagens jogáveis e também a que oferece as condições mais favoráveis de vitória, dado que começamos à partida com várias facções amigáveis e com uma boa porção do território já desbloqueado.
Sem grande espaço livre numa região atolada de grandes generais e pequenas civilizações emergentes, a diplomacia ganha contornos inéditos para jogos desta saga histórica. Garantir uma entrada estável de recursos é um verdadeiro desafio se contarmos unicamente com as nossas cidades, obrigando os jogadores a estabelecer rotas comerciais com outros líderes da região de forma a crescer de forma sustentada.
Virar um tirano de guerra e roubar cidades de interesse é sempre uma opção, mas dada a densidade populacional da região, cada confronto tem de ser muito bem escolhido para evitarmos tornar a nossa liderança num alvo apetecível.
Quanto ao território em si, o mapa da campanha deste jogo é talvez um dos maiores da saga até à data, se ignorarmos os mapas colossais da trilogia Total War: Warhammer. Esta extensão territorial permite à campanha do jogo ser uma das mais intrincadas e longas que já experienciei.
Com mais de oito horas de jogo numa das minhas campanhas, a minha civilização continuava a ser mediana apesar de ter expandido cerca de quatro vezes a minha influência e contar com um exército invejável que me colocava na 3ª posição do ranking entre 48 civilizações ainda vivas.
Vale também referir que este é um dos Total Wars mais difíceis de vencer, mesmo na dificuldade mais baixa. As minhas duas primeiras campanhas, ambas com Ramesses III, duraram pouco mais de 2 a 3 horas até que fosse apagado do mapa. Foi com Seti II que consegui uma campanha invejável, mas tive de esquecer muitas das minhas manhas habituais nestes jogos e perceber a importância dos meus vizinhos diretos, mesmo que ao custo de os ajudar a crescer no processo.
A diplomacia neste jogo ganha ainda um contorno especial com a luta pelo lugar de faraó. A todas as rondas somos colocados no lugar de um jogo de intriga e corrupção com o objetivo de ganhar um lugar privilegiado na corte e até, quem sabe, garantir um lugar no posto mais alto da civilização egípcia de forma a rolar os dados sempre a nosso favor.
Fora do controlo da corte, e do próprio faraó, estão os “povos do mar”. Esta foi a mecânica introduzida pela criadora do jogo para aquecer o late game e evitar problemas de estagnação numa altura em que as várias civilizações começam a ter os seus territórios fechados e as alianças não permitem novas conquistas.
Esta mecânica funciona em ondas que vêm de vez em quando e trazem frotas com exércitos temíveis através do mar Mediterrânio que ao chegar à costa norte do Egipto atacam cidades e armadas sem olhar a quem. Não é possível entrar em diplomacia com estes inimigos que são capazes de criar o caos nas duas duas margens do nilo e deixar civilizações às portas da morte.
Com a sua fórmula mais do que provada, a CREATIVE ASSEMBLY criou mais um jogo totalmente viciante pela sua profundidade e pela forma como nos coloca nos sapatos de um grande líder. Apesar dos seus problemas, o jogo é uma verdadeira enciclopédia história e um hino a todos os fãs de Total War.
Os problemas do seu TW Engine 3 são mais notórios do que nunca, mas acredito que a CREATIVE continue a trabalhar em soluções para trazer Total War: Pharaoh ao seu potencial máximo, como é habitual com esta empresa. Aguardo também ansiosamente pelos primeiros grandes mods da comunidade sempre dedicada que eleva sempre a visão dos títulos Total War a patamares que nem a própria criadora planeava.
O Total War: Pharaoh foi lançado no passado dia 29 de setembro em exclusivo para computador. Esta análise foi realizada na versão Windows da loja Steam.
Lê as últimas novidades dos esports aqui.