O Psychonauts 2 é a necessária e merecida sequela para esta saga de culto da Double Fine.
Numa breve história digna de livro há que relembrar o que foi e como andou a saga Psychonauts. Para quem não se lembra, ou para os mais novos, Psychonauts foi um título lançado em 2005, numa altura em que os jogos de plataformas eram ainda um dos mais importantes segmentos de mercado.
Com um mercado saturado de personagens fofas e histórias superficiais, eis que apareceu Tim Schafer e a sua Double Fine com um título inovador que deixou críticos e fãs mais curiosos completamente estonteados, falo claro, de Psychonauts. Ora, apesar da qualidade narrativa que este jogo apresentava e de uma jogabilidade muito acima da média, infelizmente 2005 era já um período de transição para um mercado mais orientado para FPS, onde praticamente já só as grandes mascotes de plataformas mantinham presença assídua nos topos das vendas.
Isto ditou que apesar de ser um sucesso de críticas tanto de público como especializadas o título não vendeu e foi mesmo considerado um falhanço comercial. Claro que como em qualquer saga com qualidade, cresceu um culto de seguidores ávidos que não queriam deixar as aventuras de Razputin Aquato terminarem por aí.
Foi então em 2015 que a Double Fine em conjunto com a Xbox Game Studios lançaram a bomba durante uma apresentação dos The Game Awards de que o título estava em produção. Depois do anúncio seguiu-se uma longa campanha de crowdfunding que foi um sucesso.
Após a campanha, foi lançado em 2017 uma título ponte na saga – Psychonauts in the Rhombus of Ruin que viria a fazer a ligação entre os acontecimentos do primeiro títulos e os do jogo que aqui temos em mãos.
Felizmente para os mais desatentos, a Double Fine produziu um vídeo, também disponível dentro do jogo na secção Extras, que relembra os acontecimentos de estes 2 jogos passados:
Terminada a aula de história, seguimos para o jogo propriamente dito. Psychonauts 2 mantém a veia irónica e cómica dos seus predecessores e volta a entrar e de forma bem mais profunda nas entrelinhas da mente humana.
A forma com que o jogo nos guia através de vários segmentos leva-me mesmo a questionar em alguns momentos se estarei mesmo num jogo para jovens. É um título que na sua jovialidade e num tom de brincadeira conta uma história de superação e cura mas sem esconder alguns pontos mais obscuros no caminho até essa vida melhor.
Visualmente é um jogo incrível e incrivelmente bizarro ao mesmo tempo, o que ajuda a criar o ambiente perfeito para os temas que são abrangidos durante as horas de jogo. Atravessamos por momentos verdadeiramente alucinantes, em todo o fulgor da palavra, e desde dentes a olhos tudo serve de plataforma para criar uma sensação de desconforto positiva, sempre dentro do tema do nível em que nos inserimos.
Quase que nos sentimos como um psiquiatra ou um psicanalista enquanto resolvemos os puzzles da mente de vários personagens passando por vários transtornos, desde vícios a ansiedade, passando por estados de stress pós-traumático ou delírios. Desde as conversas com vários personagens reais aos personagens da mente de outros, aos estados emocionais mais crus, tudo grita retrospetiva e sentimos realmente uma série de questões a surgirem dentro de nós enquanto jogamos, questões essas que só nós podemos oferecer resposta.
A nossa personagem é versátil e mantém os mesmos “problemas” da primeira iteração da saga como a ansiedade ou a descrença nas suas capacidades. Entre as mais incríveis aventuras em Psychonauts 2, uma das mais importantes é a evolução constante do pequeno Raz que se revela como um herói contra todas as adversidades.
Como um belo jogo de plataformas, o level design para além de estético é desenhado para oferecer um desafio constante ao jogador que deve usar os seus saltos precisos e habilidades para atravessar pelos níveis.
Entre as habilidades, todas têm as suas utilidades específicas, seja oferecendo melhores maneiras de derrotar certos inimigos ou utilizando uma panóplia destas em combinações específicas para decifrar os mais variados puzzles.
Estas habilidades podem ser trocadas a qualquer momento do jogo, dado que apenas podemos usar 4 de cada vez. No aspeto mais “RPG” do título, podemos evoluir as nossas habilidades caso consigamos encontrar uma variedade de artigos secretos espalhados pelos vários mapas que requerem por vezes uma atenção especial.
O jogo pode ser passado sem evoluir estas habilidades mas recomendo uns minutos extra de pesquisa em cada zona porque sem dúvida que as habilidades mais evoluídas tornam a experiência mais tranquila em certos segmentos. A pesquisa por alguns segredos também é facilitada em vários momentos com dicas sonoras da nossa personagem ou efeitos visuais indicativos de algo perto.
Sem entrar em possíveis spoilers aproveito para pedir que estejam sempre muito atentos a todas as conversas, mesmo em combate. A escrita deste jogo é algo impressionante e é rara a frase que não tem duplo sentido, algo que vão perceber logo pelos primeiros momentos, assim que vos forem apresentados alguns inimigos.
Falando em inimigos, mais uma vez o título toca nos truques da mente para nos apresentar os vários chefes e chefões que vamos apanhar. Más ideias, dúvidas, censura, arrependimentos, são algumas palavras que me saltam à mente, porque Psychonauts 2 relembra-nos sempre que a nossa mente é o nosso maior inimigo.
Para além de conter uma escrita incrível: som, som e som, este é um jogo que é um crime jogar sem o áudio ligado. Não só porque perderiam a intensidade e sarcasmo irreparável de algumas personagens como também perderiam o maravilhoso sound design que o jogo vos oferece.
Tecnicamente é bem executado sendo que esta análise foi jogada na versão de PC com todas as definições no máximo. Tirando o ocasional salto, não encontrei quaisquer problemas de performance e mesmo os loadings foram curtíssimos, servindo quase como pequenos momentos de retiro antes de voltar à ação.
A narrativa é séria e contada de forma cómica mas adulta e poucos foram os pormenores deixados ao acaso, algo que seria de esperar num jogo com 16 anos de espera na mente do brilhante Tim Schafer.
Psychonauts 2 transcende a barreira entre a arte e o entretenimento. É um título para ficar na história dos jogos de aventura.
O Psychonauts 2 tem data de lançamento apontada para o dia 25 de agosto. O jogo estará disponível para PC, Xbox One e Series X/S e PlayStation 4.
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