“Essência” – característica ou conjunto de características permanentes e invariáveis que conferem uma identidade a um ser ou a um objeto; conjunto dos elementos constitutivos de um ser, sem os quais não teria realidade alguma.” O que é a nossa essência? Quem realmente somos? O que procuramos? Perguntas que diariamente faço a mim mesmo. A minha própria definição, objecto da minha pessoa, a minha identidade, o meu ser. As respostas que obtemos são aquelas que nos definem como parte do universo no seu todo.
Sejam bem-vindos à minha primeira crónica para o RTP Arena. Chamo-me Jamil Heneni, tenho 25 anos, jogo desde que me lembro e no inicio da minha adolescência fundei o meu primeiro projecto de videojogos – a marca MagicShot – que até hoje mantenho no activo. Hoje proponho-vos que voltemos atrás no tempo. Vamos olhar para o passado e recordá-lo. Vamos percorrer na história a realidade dos videojogos a nível nacional, perceber o seu crescimento (e direção) e onde estamos hoje. Vamos descobrir a essência – aquela que nos define como comunidade – e voltá-la a trazer ao de cima. Vamos festejar a ligação humana que hoje tanto se encontra esquecida.
essencia
NINTENDO. A primeira palavra que surgia a preto e verde no ecrã do meu GAMEBOY Classic. Era preciso rezar aos santos que a disquete não estivesse suja. Caso contrário, teríamos que a retirar, voltar ao contrário, assoprar e voltar a colocar. Magicamente esta solução era eficiente e qualquer orgulhoso dono desta consola conhecia bem este truque. Estávamos na época onde a conexão através dos videojogos dava os primeiros sinais. Todas as crianças com GAMEBOY se juntavam, sentadas lado a lado, a trocar Pokémons e batalhar (através do fantástico Game Link Cable) por um lugar no pódio da escola do “treinador mais forte”. Nas aulas contávamos os minutos para sair e poder ir para o recreio nos intervalos competir com os nossos colegas. Mais importante do que quem ganhava era a diversão que isso nos trazia.

E se fora de casa tínhamos o GAMEBOY, na sala de estar ninguém parava a PLAYSTATION. As férias eram sinónimo de recebermos amigos nas nossas casas durante tardes inteiras. Eram horas contínuas de corridas, lutas incansáveis e mundos para descobrir nos mais variados títulos lançados para esta consola que era a rainha do entretenimento doméstico. O lanche das mães complementava a sensação de felicidade que nos percorria nestes tempos onde tudo o que mais queríamos era desafiar o nosso melhor amigo a passar-nos à frente no nosso jogo favorito. A ligação entre todos era inequívoca.

Havia, no entanto, sempre outro objeto lá por casa. Inicialmente era maioritariamente utilizado para trabalho e só os adultos podiam mexer. Branco, preto ou cinzento, uma caixa rectangular deitada em cima da secretária, com um ecrã quadrado, teclado e um animal de estimação mecânico que apelidaram de rato. Esse maldito que veio mudar a forma como os videojogos se desenvolveriam e a nossa perspetiva sobre eles. Lembro-me perfeitamente do primeiro computador que tive. Era um COMPAQ Deskpro, com um botão de ON/OFF, um processador PENTIUM, 8MB de RAM e um disco rígido de poucos MB’s. O Windows 3.1 era instalado recorrendo a uma dezena de disquetes e a partir daí tínhamos acesso a todo um novo mundo de ferramentas. A máquina de escrever ficou arrumada num armário e de repente as pastas com folhas escritas à máquina passaram a ser preenchidas de outras impressas do computador. Trazia dois jogos super viciantes – solitário e campo de minas. Vinha também equipado com uma opção de topo… dava para enviar cartas digitais. Fantástico, hã?!

Olho com bastante nostalgia para estes tempos pois foram o inicio de toda uma nova revolução tecnológica que tive a sorte de presenciar. São estes os momentos mais antigos que recordo com bastante saudade onde o analógico passaria para o digital e se começava a criar a “sociedade informatizada” onde vivemos hoje. Sou amante de tecnologia e da sua evolução desde sempre mas ainda mais defensor dos valores humanos que nos ligam. Chegaremos a esta parte mais à frente. Os anos passam, ganho autorização para abrir o meu computador mais antigo e começo a fazer testes. Quando já tenho outro COMPAQ novinho em folha com o Windows 98, estreiome como técnico no meu antigo 3.1, abro a caixa, troco uns cabos para perceber o que fazem, volto a fechar e clico no botão de power. “Não vai ligar ou vai mostrar um ecrã de erro” – penso eu. Não… Pegou fogo mesmo!
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A partir daí comecei – inicialmente muito a medo depois deste desastre – a gostar destes equipamentos que por dentro eram verdes e feios mas que quando funcionavam faziam maravilhas. As experiências não paravam e a minha curiosidade crescia de dia para dia. Adorava o tetris de trocar peças e instalar / desinstalar software. Queria descobrir como tudo funcionava. E os videojogos não ficaram atrás. Recordo-me de subscrever a BGAMER e outras revistas que traziam CD’s recheados de DEMO’s e jogos completos que faziam a maravilha das minhas novas tardes. Já sem consolas mas com um novo mundo de informação e entretenimento na ponta dos dedos onde o limite era a imaginação… ou o espaço em disco. Destaco – por ordem cronológica – o DOOM, QUAKE, e o grande HALF LIFE. Este último, ao contrário dos outros, viria a mudar a minha vida. Em Novembro de 2000, depois de uma passagem de ano onde surgiria um suposto vírus a nível mundial que acabaria com os computadores, a VALVE após adquirir o CS MOD (que começou por ser um projeto sem fundos e apenas uma modificação comunitária mas amplamente jogado) lança a primeira versão oficial do Counter-Strike. E aqui começa a minha viagem por este título hoje conhecido por todos.

 

Jamil Heneni é CEO da MagicShot Gaming Network
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