Imagem de Ódio e preconceito contra atletas trans mancham final da ESL Impact League
Fotografia: ESL

A sétima temporada da ESL Impact League ficou marcada por uma onda de “ódio” e “preconceito” fruto da participação de uma equipa com atletas trans, e a RTP Arena foi ouvir várias jogadoras sobre o caso.

Com transmissão inédita na RTP Arena, a final da sétima temporada da ESL Impact League ficou marcada por uma onda de comentários transfóbicos tanto nas redes sociais quanto nos diversos chats de transmissões na Twitch.

A participação e chegada à final da Supernova Comets, equipa composta por atletas trans, levou a centenas de comentários negativos contra jogadoras e a ESL – como pode ser comprovado aqui ou aqui.

ESL permite participação de atletas trans

No site da ESL, pode-se ler que a ESL Impact faz parte da iniciativa #GGFORALL. Um programa lançado para “combater a negatividade e toxicidade na indústria dos Esports, de modo a fomentar a diversidade e inclusividade”.

O livro de regras disponibilizado online pela organizadora é claro: “As equipas devem ser compostas por cinco mulheres (cis ou transgénero) para serem elegíveis para participação”, segundo o artigo 2.7.6.

“A ESL reserva-se o direito de verificar o género de uma participante, podendo solicitar documentação de suporte, como um documento de identificação emitido pelo governo ou uma declaração médica. A não apresentação da documentação exigida dentro do prazo estipulado, ou a entrega de documentação inadequada, poderá resultar na inelegibilidade da participante para competir na ESL Impact League”, pode ainda ler-se no mesmo ponto do regulamento.

🧾 ESL Impact League é uma competição internacional feminina de Counter-Strike, criada para promover a inclusão no cenário competitivo de Esports.

ESL Impact League Rule Book regras trans

O regulamento permite participação de atletas trans

Olga pede apoio para atletas da Supernova Comets e ação da ESL

Em declarações exclusivas à RTP Arena, a atleta Olga “olga” Rodrigues, nome maior do cenário feminino de Counter-Strike e atleta trans, pediu ação da ESL relativamente a um caso que a própria “já esperava que acontecesse”.

“Como sempre, quase todos os comentários vêm de homens ou de contas fake, pessoas que nem participam na Liga e com um objetivo de ‘defenderem as mulheres’, provavelmente são os mesmos que espalham discursos de ódio quando assistem a mulheres cis a jogar ou até mesmo quando jogam contra eles”, começou por referir a atleta de 30 anos.

Olga trans ESL Impact

Olga está atualmente sem equipa após ter representado a HSG

“Estes ódios podem ter diferentes motivos, mas a transfobia vai afetar sempre as mulheres cis também, mesmo quando esses alvos estão a seguir todos os protocolos necessários para participarem no evento”, acrescentou a jogadora que considera crime os atos contra as jogadoras da Supernova Comets no passado fim de semana.

“ESL devia fazer uma nota de apoio”

Questionada pela RTP Arena sobre a inação da ESL, a atleta foi clara: “Sim, a ESL devia não só fazer uma nota de apoio às meninas da Supernova, mas também expor o quão inaceitável e criminoso é este tipo de comportamento por parte dos viewers”.

Falando sobre relativamente à ESL Impact ser o sítio certo para atletas trans jogarem, a brasileira referiu que “não existe outro cenário tão grande quanto o misto e o feminino onde as pessoas trans possam jogar torneios de forma competitiva”.

“A verdade é que o mundo em geral carrega muito ódio, ódio na sua maioria das vezes vindo de medo, insegurança e insatisfações pessoais de pessoas que não são felizes com a vida que levam e querem culpar alguém por isso”, disse antes de concluir: “É muito difícil impedir que essas pessoas continuem a destilar ódio, ainda para mais na Internet, onde elas se podem esconder. É como eu digo sempre, temos de nos posicionar e apoiar quem lida com estes problemas”.

Portuguesas pedem respeito

A portuguesa Bruna “vih” Loureiro foi uma das mais vocais na defesa das atletas da Supernova Comets durante a transmissão da Grande Final na RTP Arena e respondeu também às perguntas do nosso meio relativamente ao caso.

“Acaba por ser mais um preconceito e assédio a nós mulheres que temos de enfrentar no nosso pequeno nicho da comunidade feminina de Counter-Strike”, disse. “A comunidade feminina foi criada para existir igualdade de género, mais oportunidades e representatividade, incluindo as mulheres trans”.

A jovem portuguesa considera que os ataques “às mulheres trans da Supernova Comets advêm das pessoas menosprezarem esta comunidade e o seu valor em todos os sentidos”. “Quem destila este ódio não se preocupa ou quer saber de nós, o que representamos ou o que fazemos enquanto jogadores e scene”, apontou.

A jogadora das SAW Myst foi mais longe e referiu mesmo que “se for para realmente discutir este ‘tema’ a decisão é nossa [delas, jogadoras] e as mulheres trans são mulheres”.

Tal como a brasileira “olga“, a jovem atleta nacional defendia uma ação da ESL. “Acredito que a ESL devia ter colocado um comunicado para condenar todos os comentários cruéis e de ódio, pois era uma forma das jogadoras se sentirem mais protegidas no maior torneio feminino”.

“ESL podia criar conteúdo digital sobre a importância da comunidade trans no Mundo dos Esports”

A ‘warrior’ afirmou ainda que a ESL devia apostar em opções mais dinâmicas que poderiam ajudar “na dita aceitação” e apontou à “criação de conteúdo relacionado com estas jogadoras, dando a oportunidade de se poderem dar a conhecer”.

A RTP Arena falou ainda com Marta “D7” Barreira que sublinhou a sua visão sobre a polémica: “Independentemente da opinião de cada um, tem de haver respeito pelo próximo. Apenas isso”.

Sobre a possibilidade de ação da ESL, a atleta referiu que não sabia qual o melhor método para prevenir este tipo de situações: “É impossível controlar. Acontece com toda a gente na scene. Pior ainda com minorias”.

D7 NAVI Javelins ESL Eco Warriors

D7 é uma das principais figuras nacionais do cenário feminino de CS

empathy: “Tive uma vida horrível e o CS foi uma das únicas coisas que gostei”

A atleta das Supernova Comets “empathy” recorreu ao X para partilhar o sentimento de frustração e tristeza após a Grande Final da ESL Impact League.

“Eu devia estar feliz, mas em vez disso estou no quarto de hotel a chorar. Imaginem tentar sem parar, montar uma equipa, jogar o dia todo e finalmente sentir melhorias, para depois ser odiada por tudo e ter toda a gente a tratar-te como se tivesses feito alguma coisa mal”, atirou.

“Estou cansada e estou a tentar o meu melhor. Tive uma vida horrível e o Counter-Strike foi uma das únicas coisas que eu realmente gostei”, referiu.

FURIA fe venceu troféu com remontada

A equipa feminina da FURIA acabou por vencer a polémica final da ESL Impact League com uma reviravolta no BO3 decisivo contra as Supernova Comets.

O conjunto de “bizinha” acabou com a hegemonia do conjunto atualmente na Imperial, que vencia a competição desde a sua primeira edição.

A Grande Final foi disputada no palco do IEM Dallas e tornou-se o segundo jogo mais visto de sempre da competição feminina da ESL. Em 2025, tornou-se ainda o jogo feminino mais visto.

ESL Impact Esports Charts

Informações: Esports Charts

Esta quarta-feira às 17h00, a RTP Arena contará com um programa exclusivo para analisar a conquista do quinteto da FURIA. O RTP Arena Demo & Review recebe o Igor “PIKA” Martins para olhar aos pormenores da vitória brasileira.

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