Melhor início era difícil para Ricardo “JTR” Júnior na FlyQuest. Campeão da ESL Challenger Atlanta, o técnico português quer afirmar-se no cenário de CS2.
Com pouco mais de um mês na sua nova casa, o jovem de 21 anos falou à RTP Arena sobre o projeto que decidiu abraçar, o estado do cenário nacional, a sua rotina e crescimento da FlyQuest, bem como objetivos e o que o futuro reserva.
Para JTR, este momento histórico para o Counter-Strike australiano é também muito especial para si, representando a sua primeira conquista internacional no CS masculino que acaba por coincidir com a primeira LAN vencida pela região desde 2017.
Recrutado para adjunto, o português sentiu uma ligação imediata com o veterano Christopher “dexter” Nong: “procurava um analista para a equipa, para enviar provas do meu trabalho e analisar os FlyQuest. Enviei, desde logo, gostou de mim, pediu-me logo para preparar um jogo deles e deu-me confiança.”
A trabalhar com nomes como dexter e Erdenetsogt “erkaSt” Gantulga, treinador principal, JTR destacou a experiência e calma demonstrada por ambos, criando um ambiente propício dentro da equipa onde, mesmo com a sua posição, o jovem desempenha um papel fulcral.
“Tenho tido muito tatical input, estou a trazer muita parte do review, game plan e anti-strat, estão-me a dar grande liberdade para ser responsável pela parte tática deles”, revelou o antigo técnico da ODDIK que reconheceu ser muito bom para si estar numa equipa como a FlyQuest, ter contacto com jogadores que já jogaram Majors.
Apesar de ser adjunto, o português não se preocupa com as circunstâncias em que chegou a este nível: “As pessoas tem muitos preconceitos contra a minha idade por ser um treinador jovem, só tenho 21 anos, é muito novo. Acredito que uma organização dar head coach a uma pessoa tão nova não é algo que aconteça assim tão frequentemente.
Geralmente são ex-jogadores ou pessoas mais experientes, não há assim muitos treinadores jovens no tier 1, no 2 já começam a aparecer. Era a única maneira de eu conseguir chegar lá, tirando SAW que já tinha o BERRY que foi uma ótima escolha. Ir para Assistant coach não me aflige, continuo a ter o meu input e estou a gostar muito de trabalhar assim.”
Com o Major como grande objetivo, Ricardo Júnior acredita que a vitória na ESL Challenger pode servir como ponto de viragem para a FlyQuest, equipa que tem na pressão da qualificação o seu maior inimigo: “Se estivermos com a postura que tivemos em Atlanta, acho que é algo que se irá realizar naturalmente, somos a melhor equipa da Oceânia.”
Para o português, este triunfo “dá muita confiança e mostra que o CS australiano não é uma brincadeira”, esperando que o facto da equipa estar a representar bem o seu país seja a chave para continuarem a melhorar e darem uma melhor cara nos torneios de tier 1, algo que passa também por Alistair “aliStair” Johnston.
Relativamente ao AWPer de 26 anos, JTR não poupou elogios: “Ao contrário do que as pessoas pensam, julgo-o muito bom e é simplesmente em quem todos colocam a culpa, o bode expiatório e estava a duvidar de si próprio. Toda a equipa puxou-o para cima e tentou mostrar-lhe que só tem de olhar para si e não para o que as outras pessoas dizem.
Neste torneio, ele foi o melhor AWP do torneio: mais clutches, mais AWP kills por ronda e estão muitos AWPs bons neste torneio, story, syrson, fr3nd… acredito que ele estava muito apagado por pressão própria dele e agora está muito bem. O CT também era um problema e julgo que em Atlanta, não perdemos um único, tudo positivo.”
Habituado a sacrificar-se para conseguir integrar projetos com um fuso horário bastante distinto, também a FlyQuest obrigou JTR a realizar ajustes na sua rotina diária. À RTP Arena, o treinador português abordou as preocupações sobre este tópico e a solução incomum que encontrou, algo que, segundo o próprio, vai resultando.
“Tive de tentar entender o que seria melhor para mim, tenho de adaptar o meu horário para que não seja um completo inútil em Portugal e, ao mesmo tempo, consiga estar bem com a Austrália. Optei por dividir o meu sono em duas partes, antes e depois do treino, conseguindo durante a tarde/noite de Portugal estar bem.
Durmo um bocado antes do treino, acordo ligeiramente antes e vou treinar, depois disso faço as minhas coisinhas e volto a dormir. É assim que tenho adaptado o meu horário de sono e tem funcionado sem grandes problemas”, afirmou Ricardo Júnior sobre as adaptações necessárias ao seu trabalho na FlyQuest.
Mais ligado ao estrangeiro do que propriamente ao cenário português no seu percurso profissional, JTR julga ser natural o desconhecimento geral em torno do seu trabalho na comunidade que “segue mais SAW, Rhyno, GTZ”, acreditando no entanto que não existe qualquer tipo de desvalorização: “podes não conhecer mas desvalorizar o que fiz é difícil”.
Com “muita falta de investimento em Portugal”, o português afirma que “é difícil, as pessoas tem de se dedicar a isto sem serem compensadas financeiramente”, encontrando na Nigma Galaxy a porta para transformar a sua paixão ao jogo numa profissão e apontando o mesmo caminho a outros dentro do cenário competitivo.
“Em Portugal falta muito isso e a vontade de alguns portugueses se internacionalizarem. Se em Portugal, as coisas não estão a dar, dá para ir para outros lados. O Brasil tem um investimento muito grande, embora seja longe, dá para entrar em equipas internacionais. O Coachi já está no Brasil há muito tempo, o D10S está na Galorys, o Ner0 na Yawara, o Zander que está na Intense, muitos treinadores portugueses estão a ir lá para fora por causa disso.”
Ainda sem oportunidade para conhecer presencialmente a sua equipa, JTR revelou que irá integrar o próximo bootcamp da mesma em solo europeu para preparar o RMR Asiático, fugindo assim à dificuldade de encontrar praccs na Austrália para treinar: “É tudo muito à base da teoria e a sorte é que os jogadores são experientes e conseguem adaptar facilmente ao seu jogo”.
Com agradecimentos a quem o segue e apoia, namorada e família, o português deixou ainda uma palavra de apreço à equipa por apostar em si: “é um gamble que se dá ao acreditar no trabalho de uma pessoa, é muito difícil avaliar o trabalho de um treinador. Não é por a equipa ser má que o treinador é mau e vice-versa, é muito difícil avaliar esse trabalho numa equipa”.
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