Hogwarts Legacy pode muito bem ser o maior lançamento da indústria dos videojogos este ano.

Admito que estava bastante cético, que não é o mesmo que pessimista, apenas porque parecia bom demais para ser verdade, sobretudo se considerarmos que um jogo desta envergadura e capaz de criar tanta expectativa foi desenvolvido por um estúdio com pouca experiência. E depois, claro, é o jogo com que qualquer fã de Harry Potter sonha desde sempre.

Como é afinal Hogwarts Legacy? Cumpre apenas os mínimos ou é um sonho de criança de qualquer Potterhead? O meu nome é Gonçalo Louro, ou ghazz, e estive estes últimos dias agarrado ao novo mundo do Harry Potter que tão bem conhecemos. Vamos falar sobre ele!

Hogwarts Legacy acontece cerca de 100 anos antes dos acontecimentos do primeiro livro, o Harry Potter e a Pedra Filosofal, pelo que, à partida, existiu uma liberdade criativa muito maior que permitiu à produtora idealizar toda uma história original sem ter de recorrer a personagens já conhecidas do público. Pode haver quem goste da ideia, pode também haver quem preferisse uma história em redor do nosso trio de feiticeiros favorito, mas a verdade é inegável – essa liberdade criativa foi bem utilizada.

Hogwarts Legacy

Vou direto ao assunto – este jogo está muito, mas muito melhor do que estava à espera. Sim, estava cético, e atirei-me ao jogo com alguma precaução, tudo para não ficar demasiado desiludido. Li todos os livros várias vezes, sei alguns filmes de trás para a frente, joguei as diferentes versões dos jogos – sim, mesmo as piores… portanto, queria que Hogwarts Legacy fosse mesmo muito bom.

Depois de várias horas mergulhado em Hogwarts, Hogsmeade e todos os campos em redor, posso dizer que nunca me diverti tanto com um jogo do mundo do Harry Potter. Os detalhes do castelo estão capturados quase na perfeição face ao que conhecemos nos filmes e cheguei mesmo a reconhecer alguns pormenores que tenho ideia de terem sido apenas descritos nos livros. Sem dúvida que temos aqui uma obra feita por fãs para fãs.

Claro que não é um jogo perfeito, mas já lá vamos. Vamos primeiro falar de todo o gameplay.

A produtora já nos tinha dito, mas gostei de confirmar que realmente tudo o que é visível no mapa é possível de ser alcançado, seja a pé ou a voar. Fiquei surpreendido quando sai de Hogwarts pela primeira vez para visitar Hogsmeade e me deram a oportunidade de conhecer o que chamam de “World Map”… é bem maior do que estava à espera. No entanto, senti que podia haver mais pontos de interesse para visitar. É grande, sim, mas não é o mundo mais interessante que já vimos num jogo de fantasia. Apesar de tudo, e aliado ao poder da nostalgia, é mais do que suficiente para prender qualquer jogador em muitas horas de exploração.

Mas ainda não cheguei à melhor parte do jogo, pelo menos na minha opinião – o combate! O combate está brilhante com mecânicas relativamente simples e um skill-ceiling relativamente alto, principalmente se o jogo estiver na dificuldade mais alta, que foi a que escolhi. É mesmo necessária alguma habituação a todas as combinações de teclas possíveis e perceber que feitiços e encantamentos funcionam melhor juntos. Mas parte da maravilha deste sistema de combate reside ai mesmo.

Hogwarts Legacy

Podemos usar o Protego, que serve como shield e counter, mas apenas se for utilizado no timing certo, o Incendio, o Stupefy, o Accio e tantos outros que qualquer fã vai reconhecer com um sorriso na cara. E por falar em sorrisos na cara, foi isso mesmo que aconteceu comigo durante grande parte do jogo, ao visitar tantos sítios que tantas memórias me traziam. Porque nos jogos, principalmente nos mais antigos, era possível reconhecer –  com alguma sorte – locais que nos tinham sido apresentados nos filmes… mas aqui? Aqui são réplicas autênticas. Muito bom trabalho nesse departamento!

Temos ainda a opção de voar, com vassoura ou com hipogrifos. E mesmo aqui há diversas opções para escolher a que mais se adequa ao que queremos. Podemos ir a Hogsmeade comprar vassouras, ajudar o dono da Loja de Quidditch para obter upgrades que nos dão maior controlo e velocidade, tanta coisa! Ah, falando em Quidditch… infelizmente, não há. Há muita coisa para fazer e conhecer em Hogwarts Legacy, mas não haver Quidditch deixou-me um sabor amargo na boca. Sim, podemos visitar o estádio… mas é só isso.

Voar tem uma particularidade estranha. Dá impressão de ter sido feito desta forma para passar a ideia de que voar é difícil, mas os controlos chegam a ser confusos. Um dos analógicos controla a direção e o outro sobe e desce a altura da vassoura. Só que o analógico q serve para subir e descer, serve também para virar a câmara. Tudo junto, torna-se confuso, pelo menos no início. Fico realmente sem perceber se foi propositado ou apenas mau design.

Todo este mundo está dividido em quests, collectibles e outro tipo de elementos que podem ser consultados no menu – pontos de talento, que funcionam como skill trees independentes; muito gear para usar e experimentar, com vários atributos que adicionam uma vertente de experimentação ao jogo; Challenges que vão sendo cumpridos no decorrer do jogo… resumindo, temos um verdadeiro RPG nas mãos, um pouco ao estilo de, por exemplo, The Witcher 3.

No entanto, todas estas mecânicas e histórias são apresentadas através do que, na minha opinião, é o pior aspeto deste jogo – o voice acting. Aliado às fracas animações faciais, torna complicada a imersão no jogo. E já que falamos de coisas menos boas, os gráficos não impressionam. Servem o propósito e há zonas que são realmente bonitas, mas nada que já não tenhamos visto no passado… talvez em 2015 ou 2016. Pessoalmente, não me chateia muito, até porque o gameplay de qualidade compensa o aspeto visual do jogo. Mas fica o apontamento para quem gosta da maior fidelidade gráfica possível.

E já que falamos nisso, este jogo na PS5 tem uma performance bastante boa! Fidelity, Fidelity RT e Performance são algumas das opções disponíveis para os jogadores escolherem, mas temos ainda a opção de ultra-high-framerate que aproveita as capacidades de 120hz da PS5 em televisões e monitores que sejam compatível com Variable Refresh Rate, ou VRR. Ah, e existe ainda a opção “Balanced”, que procura um meio termo entre o modo Fidelity e Performance.

Ah! E ainda não falei de um lugar tão nostálgico que está disponível neste jogo – a Room of Requirement ou, na versão portuguesa do livro, a Sala das Necessidades. Há toda uma sala para personalizar à nossa disposição, seja com mesas que podem ser úteis para fabricar poções ou simplesmente para enfeitar. Podemos mudar o chão, o tecto, as paredes, decorar com quadros que vamos desbloqueando durante o jogo, tanta coisa! Ate podemos mudar todo o ambiente – ora estamos de dia, ora estamos de noite.

Hogwarts Legacy

Quem for fã de Sims pelo aspeto da decoração de interiores, vai adorar esta sala. E acaba por ser um sítio onde passamos muito tempo durante o jogo devido a todas as ferramentas úteis que nos fornece. Fiquei bastante surpreendido quando comecei a explorar e percebi a complexidade e as possibilidades que tinha nas mãos. É um dos pontos mais fortes e, na verdade, surpreendentes!

Ah, e quando descobrimos Gear que não está identificado… vou dizer apenas que a Room of Requirement vai ser útil para isso.

Na minha experiência com o jogo, tenho perfeita noção de que grande parte da minha diversão esteve ligada à nostalgia que sinto por este mundo. Mas tentei ao máximo olhar para ele de forma isenta, e acho que, até certo ponto, consegui. Claro que ao passar pelos sítios onde sei que o Voldemort vai morrer cento e tal anos depois – sim, porque no livro morre num sitio e no filme noutro – ou pela casa que no futuro será do Hagrid, é difícil não ter aquele sentimento de carinho, e pode dar uma falsa impressão de qualidade ao jogo.

Mas a verdade é que o jogo é muito sólido, divertido e os bugs ou glitches que encontrei foram mínimos! A banda sonora também é original, mas com muitas nuances das músicas que mais conhecemos das obras do cinema, o que ajuda ao sentimento de familiaridade que está presente durante a experiência.

Sabemos que ainda faltam 100 anos para acontecer a história que nós conhecemos, mas isso não impediu os produtores de colocar alguns Easter Eggs pelo castelo. Assumo que esta poção que encontrei numa casa de banho seja Polyjuice?

Esta review, como disse, foi feita com muito receio de que este jogo desiludisse, mas chego ao fim e, assumo, não podia estar mais errado. E ainda bem! É difícil ignorar alguns aspetos menos positivos num jogo desta dimensão, como o voice acting ou o gosto excessivo da nossa personagem em utilizar a palavra “Brilliant”. Os gráficos da geração passada também podiam estar um pouco melhores, mas hey, o que importa é o gameplay, pelo menos para mim. E é aí que o jogo brilha! E o combate… o combate está muito bem conseguido! Não é um sistema tão profundo como um God of War Ragnarok, por exemplo, mas dá uma dimensão que nunca antes existiu em qualquer jogo passado no mundo do Harry Potter.

Posso dizer que Hogwarts Legacy é uma verdadeira carta de amor a todos os fãs de Harry Potter e tenho dificuldade em imaginar algum que não vá retirar horas de diversão deste novo título que chega já nos próximos dias às mãos dos jogadores!

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