Deparando-me com as belezas naturais de Zurique, levou-me à inspiração de vos escrever esta semana sobre as estrelas nos esports portugueses e a forma como estas se posicionam. Quando observamos a natureza vemos desenvolvimento, crescimento, mutação, degradação, erosão entre outras vicissitudes que a mãe natureza nos traz. O que é certo é que tudo leva o seu tempo, quer na construção, quer no próprio perecimento. Se assistimos ao crescer de uma árvore todos temos conhecimento que levou o seu tempo a ser o que é nos dias de hoje. O mesmo sucede quando olhamos para um rochedo em que vemos a suas várias fases de formação, mas também da erosão provocada pelo tempo.
esports luz
O que é certo é que nos esports deparamos-nos com toda uma anomalia por vezes difícil de explicar. Nem assistimos ao crescimento e desenvolvimento, nem tão pouco conseguimos observar as várias fases de formação. Naturalmente que me refiro aos jogadores que se auto-intitulam de “pro” ou que são “alguém”, mas que, pouco ou nada de “feitos” conseguimos encontrar, ou temos um ou outro exemplo nesse historial que foram sorte ou mérito, discutível.
Esta auto-valorização sistemática leva a uma valorização de egos e jogadores que em 90% ou mais dos casos não vão ao encontro da realidade. Endividamento de clubes e organizações, investimentos anómalos, auto-proclamações, mas quando vamos a descascar, como se de uma cebola se tratasse, cada camada levantada é apenas revestida de pura demagogia.
Este é um panorama que infelizmente cada vez mais assistimos no nosso mercado. Jogadores ou equipas a solicitarem vencimentos, condições e um sem número de exigências, porém quando chega à hora da verdade… Bom… Todos sabemos o que sucede… Nada. Mas o que é certo é que centenas de euros já foram gastos e despendidos, ou são, e o que é também certo é que marcas são postas em causa, sim porque um clube e o seu nome são uma marca ou devem ser e devem ser defendidos.
Resultado final: equipas desmembradas, jogadores “pros” que têm a atitude e postura errada desde início que nem de perto nem de longe são sequer jogadores de “academy” com tal posicionamento, maus resultados, más classificações, pouca ou nenhuma projeção, euros de investimento perdidos, más representações, números fracos e um mercado…. Mais empobrecido.
Há que mudar este paradigma. Quando um cliente me solicita um contrato, seja ele de que natureza for, só e quando este está concluído e em conformidade com as pretensões deste é que eu efetivamente sou pago… Mas… Porque é que nos esports os jogadores pretendem ser pagos antes de qualquer prova? Antes de qualquer valorização real e própria? Sim, claro que temos grandes jogadores de renome em que o seu próprio nome, é uma marca e produto de venda, casos como FOX, Mut, entre poucos outros. E, naturalmente, que estes têm o seu valor desde logo de mercado, têm anos de carreira e que merecem de forma indubitável a atribuição de remuneração fixa… Mas, e o “resto”? Sim, meus caros/as… Desculpem tratar por o “resto”, mas é o que em boa verdade acabam por ser. E quem não tem essa carreira criada? E quem andou a saltar de equipa em equipa, de mês a mês ou três em três meses vê a sua equipa mudada? Ou mudou de clube? Ou mudou de jogador? Ah… ok… Já me esquecia o “foi azar”, “tivemos bem, mas aquilo correu mal” ou “fizemos grande jogo, mas perdemos!” Desculpas, mais desculpas, mais desculpas.
Ora façamos aqui uma conta rápida, e a título de exemplo uma daquelas remunerações de que alguns se riem pois não sabem dar valor a nada:
Uma equipa, cinco jogadores, mais treinador ou staff, a receber cada um 25€, dá o valor total mensal de 150€. Mas, a conta faz-se ao ano. E fazendo ao ano são 150€ x 12 meses = 1800€. Ora 1800€ em custos fixos já cá cantam. Vamos juntar aqui, por exemplo, em CS uma inscrição numa season da ESEA, acrescemos cerca de mais uns 170€. Já vamos em 1970€. Somemos ainda a inscrição em alguns torneios, e tomando como base o ano passado, aproximadamente 500€. Subimos para os 2470€. E, além destes, coloquemos 3 saídas a nível nacional, ou seja, três eventos offline ( e contas por alto, 20€ por dia de estadia, sendo 6 elementos x 2 noites x 3 eventos, dá cerca de 720€ – estadia arrumada – a acrescer despesas de deslocação coloquemos uma média humilde de 25€ por jogador, sendo 6 elementos são então 150€ x 3 eventos, dá cerca de 450€ – viagens arrumadas – e se for um clube que auxilie em alimentação, façamos também um dispêndio humilde de 20€ x 6 = 120€ x 3 eventos = 360€ Total: 1530€) Ou seja, uma equipa, em 12 meses que participou numa season ESEA, e três eventos tem um custo de 4000€. Se for a um evento internacional acresce uns 1500€, total anual: 5500€. Agora imaginem… Na liga online (que nem stream tem) não ficam em posição alguma de jeito. Nos eventos offline, num grau de otimismo simpático ficam em 3º lugar, e verdade seja dita, se passado 1 semana no fim de um “grande evento” português já ninguém se lembra quem ficou em primeiro, quanto mais em terceiro. E no evento internacional nem da fase de grupos passam. Ou seja, um clube despende 5500€ numa equipa em que a visibilidade é muito subjetiva e em muitos casos nula. Mas o que é certo é que o dinheiro é gasto… e é. Não incluo aqui sequer despesas administrativas, jerseys, tempo investido, agendamentos, telefonemas, mails, problemas atinentes, dramas e tantas outras condicionantes que fazem parte deste meio. No fim disto tudo o que acontece? Bom, os jogadores vão achar-se mal pagos, o clube vai achar que gastou dinheiro em vão, as marcas torcem o nariz, os fãs não aumentam nem diminuem e o resultado, é o que é.
Do exemplo acima se aumentarmos os custos fixos de remuneração para 250€/jogador/mês, passamos de 5500€ total para 21.700€/ano, dá que pensar não dá? Espero que estes exemplos muito por alto auxilie grandes mentes a pensarem duas vezes.
Faço aqui uma ressalva clara, há jogadores com muito mérito em Portugal, que contra muita adversidade se esforçam diariamente para ser alguém, que primam por fazer e ser mais, e o meu bem haja a estes, mas… são a generalidade? Não… É que já vimos que: são pagos? Não dão valor nem resultados. Têm bootcamps e gaming houses? Não há reflexos notórios de melhorias, aliás, em diversos casos até ocorre de forma inversa. Têm mais e melhores condições? Mas, o que alcançaram afinal? Qual o Major? Qual o grande evento internacional ganho ou com boa classificação? Ou seja, reportando aqui a um dos meus artigos anteriores são apenas os maiores, e os melhores, mas do charco e do charco não passam. É pena… pois quando chegarem ao grande mar e fizerem a dura e árdua caminhada como outros no passado fizeram, aí sim, serão gloriosos e irão recolher todo o mérito, prémios e glória efetivamente merecidos. Até lá, apenas chafurdarão no charco a dizerem que querem ser Top 1, a fazer falsas promessas, pois que o problema não é nem o vencimento, nem a gaming house, nem as dormidas, nem as alimentações, nem os transportes, mas sim a atitude e postura que estão completamente erradas. Acordem antes que seja tarde demais, pois mais tarde ou mais cedo surgirão os que têm precisamente essa postura e atitudes certas e, nessa altura, vocês passaram à história.
Que fique claro que é de meu entendimento que as pessoas devam ter e receber retribuição pelo seu trabalho, no clube do qual eu sou CEO, funcionamos pelo sistema da meritocracia o qual, eu tento desde sempre, partilhar aos meus homólogos noutros clubes, assim sendo, muitos são os jogadores que a recebem, mas, fazem e lutam por ela diariamente, mostram valor e fazem.
Façamos e lutemos por mais e melhor em Portugal, e isso, parte acima de tudo de vocês jogadores. Let’s make Portugal great again, e deixemos a desculpas para os fracos e cobardes!
Até para a semana!
ramiro teodósio teodosius
Ramiro Teodósio é o CEO e fundador da For The Win eSports Club
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