Após o excelente resultado do Nuno “DrBoom” Ferreira, fomos falar com ele para perceber como tinha sido toda a experiência de lutar entre os melhores em Las Vegas.
Olá Boom, antes de mais, parabéns pelo teu percurso em Las Vegas. Vou-te fazer umas curtas perguntas que acho que os teus fãs e espectadores de Hearthstone em geral estão ansiosos por saber.
Para já fala-me um pouco do teu percurso para chegar ao Masters Tour.
Desde já obrigado Bonny. Bem, o percurso até chegar ao Masters Tour foi realizado através de umas cups que serviram de qualificadores, alguns até de 15 horas. Estes qualificadores são abertos a qualquer jogador e deles apenas passa 1 jogador para a final do Masters Tour, neste caso em Las Vegas. Consegui a qualificação ao fim de 3 tentativas, ao fim de 15 horas intensas que me deram a entrada neste Masters Tour.
E o que é que te passou pela cabeça quando soubeste que passaste e que ias seguir para Las Vegas para disputar este torneio?
Em primeiro lugar senti um grande alívio, até porque chegar a uma final de um qualificador e perder seria frustrante. O segundo lugar nestas cups não ganha nada além de uns “meros” packs pela Blizzard. Quando percebi que me tinha qualificado para Las Vegas, senti uma enorme emoção pelo trabalho que investi e pelas horas que meti neste objectivo.
Las Vegas é ainda por cima, uma daquelas cidades que os europeus têm como grande destino de viagem, eu inclusive. E quando se fala de esports, então aí a viagem ganha um maior encanto!
Quando vais participar num torneio desta envergadura tu tens que te preparar imenso, principalmente para Hearthstone. Neste jogo tens de criar os decks, estudar os teus adversários, preparar o Meta… Como é que te preparaste para este torneio?
Primeiramente temos de ver o estado da Meta e o estado dos jogadores que vão estar presentes. Dos 300 jogadores que estiveram neste torneio, uma grande parte deles são os que estão neste momento a participar na maior liga internacional, são os melhores do Mundo.
Os restantes são aqueles que conseguiram qualificar-se através dos lugares limitados da cups. O que podemos esperar são jogadores que conhecem perfeitamente o estado da Meta e têm os decks já preparados para isso.
Quanto à minha preparação, baseou-se nisso, trazer um deck que conseguisse contrariar o field que eu iria encontrar e um deck na qual eu me sentisse muito à vontade. Neste caso Bomb Warrior calhou muito bem pois tenho as duas cartas do DrBoom e é também um arquétipo onde tenho mais tempo investido utilizando o mesmo para a qualificação.
Estar entre os melhores do Mundo deve ser um sentimento inesquecível. Consegues explicar o que te passa pela cabeça quando estás no meio de tanto talento?
É um sonho estar a partilhar o palco com todos os grandes jogadores, alguns até ídolos meus, que vamos vendo ao longo do tempo, que vemos evoluir. Estar ali a competir lado a lado é uma realização própria. Sentes que o teu trabalho foi recompensado, sentes-te muito realizado e muito satisfeito por ter chegado lá.
Por outro lado, também te sentes nervoso, não só por teres um país ou uma equipa às tuas costas, mas também por quereres demonstrar o teu valor e muitas vezes é isso que impede os jogadores de conseguirem alcançar os melhores patamares.
Ao fim do primeiro dia fazes um incrível resultado de 5-2. Cinco vitórias entre os melhores do Mundo com apenas duas derrotas, sendo que à 4ª serias “dropado”. Este resultado permitia sonhar com voos dos mais altos. Como te sentiste com um resultado destes?
O meu percurso não foi muito tranquilo, porque houve um momento em que estava 2-2 e a partir daí começa a verdadeira competição. Deixas de depender apenas do adversário que está à tua frente e o teu maior adversário começas a ser tu. Começas a pensar “bem, já só tenho 2 vidas” e sentes-te nervoso até porque foi a minha maior competição até agora. Assim que começas a tranquilizar-te e a pensar na preparação que fizeste, tudo o que daí vem tem de ser focar no positivismo e na crença no teu trabalho.
Foi basicamente nisto que me foquei e sempre a pensar no jogo seguinte, nunca pensei “se eu fizer X resultado”, optei por pensar passo a passo e jogar cada jogo como tinha de ser jogado. Com este pensamento as coisas foram melhorando, passei de 2-2 para 5-2, que é excelente no primeiro dia. A partir daí foi uma escalada, sempre jogo a jogo.
Estiveste muito perto de chegar ao top 8, acreditaste desde o inicio que era possível alcançar este resultado?
Em toda a preparação que tive, até mesmo com o meu compatriota, o Zuka, apontámos sempre para o topo. Queríamos apresentar uma lineup mais agressiva que o normal, não queríamos jogar na defensiva porque sabíamos que se assim fosse, o top 8 seria apenas daqueles que se encorajavam a tentar levar um counter mais perfeito para a Meta. Com isso, decidimos mesmo levar um lineup bastante agressivo e com o formato do torneio, specialist, ter o nosso primeiro deck muito agressivo preparado para os próximos jogos.
Sempre acreditei que podia lá chegar, porque já tinha encontrado todos os atletas que lá chegaram noutras competições. Sei também medir o meu valor em relação ao deles, que não difere muito, talvez diferenciado por pequenos detalhes. Numa competição offline, se estiveres bem preparado não só com decks mas também psicologicamente, que acaba por ser o factor mais importante nesta competição, fazes a diferença. Quanto mais preparado estiveres nesta vertente, mais fácil se torna leres as reacções dos teus adversários e perceber o seu jogo, algo que não podes fazer através de um computador.
No final do torneio, não conseguiste o desejado top 8, no entanto garantiste um impressionante 11º lugar entre os 300 melhores do mundo. Além de impressionante, é o melhor resultado de sempre por um português até agora num torneio deste valor. O que é ser top 11?
Sinto um enorme orgulho. Em Portugal a modalidade de Hearthstone não é levada com a credibilidade que devia ser. Nós portugueses, temos por hábito ser muito negativistas, pensar apenas a longo prazo enquanto que falta pensar nas pequenas coisas para consolidar uma base. Temos excelentes jogadores, mas as condições no nosso país não permitem ter um sistema competitivo, um sistema que te permita evoluir enquanto jogador em que tenhas contacto com outros jogadores de grande nível nacional, porque existem.
Isso é a parte que eu tiro mais valor disto, mostrar que temos valor e creio que é um motivo de super orgulho. É mais uma prova, dos últimos torneios que tenho realizado e daquilo que consigo fazer com o pouco que temos cá em Portugal. Terminar no 11º lugar do mundo quando o apoio dos patrocinadores é parco em relação a outros países, porque todos aqueles que lá estavam e reforço “todos”, tinham melhores condições e apoio para terem lá chegado. Isto torna tudo mais interessante porque fui capaz de elevar a nossa bandeira e a minha equipa com pouco apoio.
Com este resultado, asseguraste a tua presença nos Masters Tour de Bucareste e Seul. Podemos esperar novidades naquilo que vais apresentar no torneio?
Sim. Especialmente porque o torneio em Seul que foi anunciado recentemente, terá lugar apenas 2 semanas após o lançamento da nova expansão. Vão haver novidades em todos os arquétipos e com isso vamos ter de refazer os nossos lineups a pensar na nova Meta. Novidades é algo que quero sempre, o que mais gosto é construir decks, não gosto de ser demasiado selectivo sendo especialmente contra copiar decks da Internet. Prefiro entender a raiz e a base do deck e entender como criar as minhas próprias armas e utiliza-las assim que puder. Até porque quanto mais novidades tiveres, menos os teus oponentes estarão preparados para contraria-las.
Queres deixar alguma mensagem à comunidade portuguesa de Hearthstone, que é uma comunidade muito activa e que seguiu de perto a tua aventura em Las Vegas?
A comunidade portuguesa de Hearthstone tem-se demonstrado bastante activa e apoiante das iniciativas nacionais, especialmente das várias competições e jogadores que nelas participam. Mas por outro lado é uma comunidade pouco crente, não acredita no próprio valor.
Algo que eu digo muitas vezes nas minhas streams é que têm de investir mais e dar motivos para que marcas invistam numa liga nacional, têm que fazer mais para que a nossa voz seja ouvida. Acreditem e tal como eu consigo participar nestes torneios e conseguir resultados, também vocês conseguem com trabalho e dedicação e acima de tudo acreditar em vocês e no vosso processo.
Seul e Bucareste são as próximas grandes paragens mas quais são os teus planos num futuro mais longínquo?
Eu tenho objectivos bastante elevados. O meu grande objectivo seria, poder disputar o campeonato do mundo e para lá chegar, vencer o máximo de torneios e acumular o máximo de pontos possível. O meu plano final é singrar no Hearthstone internacional e poder aumentar as condições do Hearthstone em Portugal.
Muito obrigado Boom e mais uma vez parabéns pelo teu caminho e resultado em Las Vegas. Desejo-te a melhor sorte do mundo para Seoul e Bucareste.
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