Cyberpunk 2077 não teve uma caminhada fácil – o lançamento foi atribulado, com um jogo repleto de bugs e com problemas suficientes para manchar a reputação de uma produtora tão adorada por todo o mundo, a CD Projekt Red. Mas será que uma recuperação é possível três anos depois? Uma recuperação que faça mudar todas as opiniões negativas que se possam ter sobre este jogo? Sim. Cyberpunk 2.0 e a expansão Phantom Liberty colocaram este gigante no topo do mundo… novamente!
Vamos por partes – antes do lançamento do Phantom Liberty, uns dias antes, foi lançado o tão aguardado update 2.0. Tão aguardado, diga-se, porque prometia mudar grande parte das mecânicas centrais do jogo, desde skill trees a um sistema de polícia totalmente novo. E a verdade é que muda mesmo, e para melhor.
Sabemos que o lançamento do jogo foi apressado, e as razões não interessam neste momento. Sinceramente, o que temos nas mãos agora com o Cyberpunk 2.0 é o jogo que, à partida, dá ideia de ser aquilo que a CD Projekt Red planeou originalmente. É bom só estar “pronto” 3 anos depois? Claro que não, e é pena estarmos numa fase da indústria dos videojogos em que é aceitável lançar jogos inacabados com a desculpa que terão patches e correções a saírem brevemente. Mas olhem, é o que é. E se há uma coisa que a CD Projekt Red já provou ser muito boa, talvez até das melhores produtoras, é na criação de mundos envolventes e narrativas, não fossem eles os criadores do Witcher 3.
Quando fiz a review do Cyberpunk 2077 há três anos, as minhas avaliações foram positivas. Foram porque o jogo era genuinamente bom, se conseguíssemos ignorar todos os problemas que tinha. O gameplay era sólido, a história e narrativa eram interessantes, a presença do Keanu Reeves era forte, tudo ok. Mas também disse que havia muito a melhorar, e fico muito contente que esse momento tenha finalmente chegado.
O Update 2.0, lançado gratuitamente para todos os jogadores, traz consigo toda uma reformulação às skill trees, mudanças no comportamento da policia, alterações à IA dos adversários, armas, combate em veículos, tanta coisa! A performance do jogo, pelo menos no PC, também melhorou, já para não falar da nova tecnologia da NVIDIA, DLSS 3.5 que, se tiveres uma placa gráfica RTX da família das 40, tens FPS que nunca mais acabam, mesmo com o Ray-Tracing em Overdrive. Se tiveres uma máquina destas, prepara-te, porque vais ter na tua frente aquele que é, na minha opinião, o jogo mais bonito da atualidade! Visualmente, Cyberpunk é de deixar cair o queixo. O sistema de iluminação, reflexos, os movimentos das personagens… há coisas que até parece não fazerem sentido.
Deixem-me só apontar que as imagens que estão a ver aqui não têm Ray Tracing ligado. As definições gráficas estão no máximo, mas sem RTX. O meu PC é bom, mas não tem uma 40.
Só pelo 2.0 vale a pena regressar ao Cyberpunk, se por acaso forem daquelas pessoas que o deixaram meio esquecido na vossa biblioteca. Ou mesmo que o tenham acabado, um novo gameplay com estes sistemas reformulados vai ser algo completamente diferente. Aliás, as diferenças são tantas que a produtora até recomenda que se jogue com um save novo. Mas podem jogar no antigo se assim o quiserem, só terão de re-atribuir todos os vossos skill e perk points às novas skill trees.
E, finalmente, temos o Phantom Liberty, o novo DLC que traz Idris Elba, o ator, à equação Cyberpunk. Eu secalhar sou suspeito, sempre gostei do trabalho dele, mas a performance neste novo conteúdo do jogo está de bater palmas. Solomon Reed, a personagem interpretada pelo Idris, é um ex-agente infiltrado que se vê obrigado a voltar ao trabalho a pedido da presidente dos Estados Unidos… e porque a nossa personagem V também o pressiona, mas isso são histórias para vocês descobrirem. Não se preocupem que não há spoilers aqui.
Mas preparem-se para uma história forte e adulta, que toca em alguns temas que poderão ser considerados sensíveis para algumas pessoas e até com muitas escolhas diferentes. Aliás, tantas escolhas, que se forem feitas algumas específicas, o DLC acaba cedo demais e fica “bloqueado”, com o Johnny a dizer para não nos preocuparmos e para para irmos beber um copo. Sim, se escolherem não ajudar as personagens do Phantom Liberty, não ajudam mesmo, falham as missões e são obrigados a recarregar o save. É engraçado e gostei disto, até porque é um RPG e és tu que fazes as tuas próprias decisões. Mas se gastam 30€ (que é o preço deste conteúdo extra) e depois decidem não jogar… isso é com vocês.
E é daquelas histórias que envolve de tal forma, que até aconteceu algo que eu adoro – estou a chegar ao final, última missão… e de repente não era! Faltava mais ainda, fui genuinamente surpreendido com mais história, mais escolhas e mais tempo de jogo. Não foi bem um plot twist, mas foi muito positiva esta surpresa.
“Ah achavas que estavas a chegar ao fim e que era “só” isto? Nada disso, temos mais para ti”.
E temos momentos incríveis – desde interações muito engraçadas com o Johnny até a um momento musical que, na minha opinião, foi dos mais incríveis e envolventes que alguma vez presenciei num jogo, e pode passar completamente ao lado se estivermos apenas a querer “despachar” a história. Fica a minha recomendação para jogarem com calma e apreciarem realmente o caminho que o Phantom Liberty vos coloca a frente, vale a pena 😉
Falando do Johnny Silverhand, gostei também muito da evolução da personagem dele face ao jogo base. Na original, conhecemos uma personagem mais implacável e com os seus motivos para o que faz, estejam estes moralmente certos ou errados. Já no Phantom Liberty, descobrimos que a personagem interpretada por Keanu Reeves também tem um lado mais humano, mais razoável.
Além de toda uma nova história, novos gigs, uma nova parte do mapa que diga-se já, consegue ser 1000x mais caótica que Night City, temos ainda uma nova Perk Tree, a Relic. Mas esta é completamente diferente das que conhecemos do jogo base, e que agora foram reformuladas. Com muito menos opções para escolher, a verdade é que podemos desbloquear tudo e de uma forma totalmente diferente. A Relic Skill Tree obriga a encontrar os pontos que precisamos por Dogtown, em vez de estar diretamente relacionada com o nosso nível. E traz, maioritariamente, melhoramentos à nossa personagem e à nossa build, não procurando acrescentar features novas ao gameplay.
Temos ainda conteúdo praticamente infinito, sendo gerado automaticamente pelo jogo. Já vimos conteúdo gerado desta forma em jogos, desde o Skyrim, e mais recentemente, por exemplo, com o Starfield, e agora chega ao Cyberpunk também. Mas como em qualquer jogo que o utilize, eventualmente acaba por cansar e passamos a ignorar simplesmente. Temos duas variedades aqui – loot drops aleatórios identificados por fumo vermelho que estão a ser protegidos por inimigos e temos de os matar para conseguir apanhar e carros que temos de roubar e entregar em pontos pré-determinados. Sim, muito estilo Grand Theft Auto. E o combate em veículos é tão forçado neste que até parece que foi criado de propósito para demonstrar esta nova feature do Cyberpunk 2.0. Mas ainda bem que existem, até porque só fazemos se quisermos e não somos penalizados por não o fazer.
Como não podia deixar de ser em Cyberpunk 2077, temos vários finais possíveis neste DLC que estão inteiramente dependentes das nossas escolhas. E temos ainda um novo final no jogo base, que se torna disponível ao acabarmos o Phantom Liberty, visto que a história do DLC acontece ali sensivelmente a meio do original.
Parabéns CD Projekt Red, acho que é isto. Vocês merecem os elogios que estão a receber agora por finalmente conseguirem mostrar ao mundo que a vossa visão para Cyberpunk 2077 é incrível ao ponto de ter sido, para mim, um dos melhores jogos que joguei na vida com este update 2.0 e DLC. Se devia ter sido logo lançado assim na data original? Sim, devia, mas agora já lá vai. E podiam simplesmente ter abandonado o barco e apostado num próximo projeto, mas não o fizeram. E ainda bem, porque o resultado final só dá vontade que venha uma sequela.
O Phantom Liberty é tudo aquilo que eu poderia querer e esperar de um DLC de Cyberpunk 2077 e fico muito, muito satisfeito com a experiência que tive ao longo destas 30 horas de review, sensivelmente. E agora vou continuar a jogar, e sinceramente acho que é o melhor elogio que posso dar – mesmo depois de terminar a review, ainda quero continuar!
E não se esqueçam, com o Phantom Liberty cá fora e com o capítulo Cyberpunk encerrado na história desta produtora, o próximo jogo do The Witcher vai entrar em produção ativa. Venha ele!
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