Terminou o The International 7. O torneio, uma espécie de Monte Olimpo dos eSports, coleccionou recordes de audiências, de utilização dos recursos do jogo e, claro, de premiação. Foram meses de qualificadores com milhares de equipas até uma fase final com as 18 melhores. Muitas surpresas, muitas reviravoltas, muito jogo, muita competição.
Foi um evento absolutamente arrebatador, a dar razão à Valve quanto ao equilíbrio do metagame actual. Nos dois primeiros dias já haviam sido utilizados mais de 100 heróis num torneio que viria a marcar um recorde em termos de percentagem de heróis utilizados.. Jogos para todos os gostos e feitios, portanto. Muitos jogos, muitas equipas diferentes, muitos estilos particulares e, claro, um sem-número de previsões de Battle Pass a falhar redondamente.
A dada altura, em plena fase final, a Valve anuncia que apenas UMA pessoa em todo mundo havia conseguido ter as previsões certas até então. O feliz contemplado viu-se num avião com bilhete VIP para assistir à final em Seattle.
Este é o The International. Este é “o tal” evento. Daqueles que faz capas do New York Times e tem honras de telejornais. Um torneio capaz de construir impérios e de fazer ruir as melhores equipas. De fazer milionários e de desfazer equipas modelo. Estratégias, picks, bans… O público aprecia a variedade. Jogos de 18, jogos de 130 minutos. jogos com 20, jogos com 150 kills. Drafts inéditos a surgir em catadupa. Um sem suportes, outro sem carries, heróis utilizados em duas, três, quatro posições e tarefas diferentes.
E foi num crescendo de interesse, de competitividade, de público, que a fase final decorreu, culminando em jogos com mais de 5 milhões de espectadores em simultâneo, para perto de 180 milhões de espectadores ao longo de todo o evento. Em crescendo esteve também o prémio… dos 1.6 milhões oferecidos pela Valve, e com base em 25% das vendas de Battle Passes e artigos exclusivos alusivos ao evento, o pote em disputa foi subindo, subindo, até perto dos 25 milhões de dólares! Um valor que esmaga o anterior recorde, com perto de um ano, e que catapulta o Dota 2 para uma liderança isolada de premiação em 2017… De janeiro até agora, Dota 2 movimentou mais dinheiro em prémios do que os 12 esports que se lhe seguem na lista… São perto de 33 milhões quando o segundo no top não chega aos 11, e o terceiro fica aquém dos 5 milhões… O fosso aprofunda-se de ano para ano. Tudo isto a reboque de um Battle Pass que é considerado um verdadeiro motor do desenvolvimento da scene de eSports em torno de Dota 2. São jogos dentro de jogos, quests, desafios, previsões, apostas e prémios… muitos prémios, com perto de 30 novas skins e sets exclusivos que vão desde a personalização dos heróis do jogo até às wards ou terreno de jogo, passando pelo rio que divide os lados ou pelo courier que transporta os itens. O Battle Pass deste ano sofreu ajustes com algumas surpresas como um item Arcano para Io, uma Skin exclusiva para Kunkka e uma miniatura em Bronze do monstro Roshan, e tudo isso fez saltar as vendas e, claro, o valor em disputa.
A fase final arrancou com algumas surpresas, como seria de esperar. Cloud9 caíram logo na primeira ronda da lower bracket perante uns surpreendentes Empire. Na Upper Bracket, duelo de titãs, com os vencedores do TI4 Newbee a darem um cleansweep aos vencedores do TI5 Evil Geniuses e a relegar estes últimos para a lower bracket. Os Liquid, que tinham estado fortíssimos na fase de grupos, perdem contra os Invictus Gaming.
A segunda ronda da Lower Bracket fica para a história. Os Evil Geniuses, um dos favoritos, cai aos pés dos Empire. 2-0 sem apelo nem agravo. Os DC caem também aos pés dos LGD e os OG desforram-se da humilhante eliminação frente aos TNC, do ano passado. Os Liquid eliminam os Secret e iniciam aqui uma caminhada pela lower bracket que ficará para a história, eliminando os Empire na ronda seguinte, enquanto os favoritos OG, a única equipa a vencer mais que um evento da Valve, caíam frente aos LGD.
Pela Upper Bracket, Newbee vencia os IG e os LGD Forever Young continuava a sua senda de vitórias relegando os Virtus.pro para a Lower onde viriam a ser eliminados pelos Liquid numa série fantástica de 3 jogos. Os IG, esses, cairiam a seguir, aos pés dos compatriotas LGD que, assim, se viam com duas equipas no top 4. LGD e LGD Forever Young tinham pela frente Newbee e Liquid. Três equipas chinesas no top 4, numa clara demonstração da importância que o jogo vai tendo no país asiático, onde se estima que o número de jogadores ultrapasse os 13 milhões de jogadores activos do resto do mundo.
Parecia ser uma fase promissora para a casa-mãe LGD. Mas a equipa principal cairia frente aos Liquid. Na Upper Bracket, os LFY, que coleccionavam apenas resultados positivos desde a fase de grupos, caem, surpreendentemente aos pés dos Newbee e são, posteriormente, eliminados pelos Liquid. Era o fim do sonho dos LGD que, apesar disso, sai com um saldo de mais de 4 milhões de dólares entre as duas equipas.
A grande final seria então entre Newbee e Liquid. Os vencedores do TI4 e última esperança dos chineses contra uma equipa europeia com talento de vários países. Ambas as equipas com membros que eram considerados pubstars nas suas fileiras. Sccc do lado dos Newbee, Miracle- do lado dos Liquid. A final trouxe aquilo que muitos esperavam. Face às exibições de Gh – considerado por muitos como o verdadeiro MVP deste The International – na posição de suporte 4, virtualmente todas as equipas se viam na obrigação de banir, logo na primeira fase, 2 heróis de Gh. Io, Keeper of the Light e Earthshaker. Três signature-heroes para Gh. Newbee baniram Io e Earthshaker no primeiro jogo e os Liquid surpreendem com uma first pick de Nature’s Prophet para Mind Control que terminaria o jogo com 9-1-7, beneficiando da presença global do herói para garantir vantagem numérica e pressão sobre os Newbee que cairiam ao fim de 27 minutos. No segundo jogo, Newbee baniram instantaneamente Nature’s Prophet, mantendo a ban na Io de Gh. “Tapar a cabeça para descobrir os pés”, dir-se-ia. Earthshaker foi a primeira pick dos Liquid e seria ele, desta feita, a pegar no jogo e a criar praticamente todas as jogadas com que os Liquid construíram a sua vantagem neste jogo. 2-0. Arrancava-se para o jogo que podia ser decisivo. Mais um e os Liquid venciam o The International naquilo que seria uma situação inédita. Nunca uma equipa havia perdido a final sem vencer sequer uma das partidas. Os Newbee arrancam com os mesmos bans em Nature’s Prophet e Io e os Liquid respondem, novamente, com Earthshaker para Gh. Miracle-, o senhor 9k, deixaria o Mid para Matumbaman em Necrophos e saltaria, por sua vez, para uma safe lane com Juggernaut, em mais um exemplo de como os Liquid trocam as suas posições em função daquilo que é o domínio dos heróis de cada um e das necessidades da equipa. Funciona? Funcionou! As Fissures do Earthshaker de Gh e a soberba exibição no Dark Seer de Mind Control catapultaram os Liquid para a primeira vitória por 3-0 numa final de um The International. Os Liquid vencem a sétima edição do The International, dedicada ao tema do Mar, naquilo que para eles foi ouro sobre as cores da equipa: o azul. Batem o recorde do Guinness anteriormente detido pelos Wings, e amealham perto de 11 milhões de dólares pelo primeiro lugar, suficiente para catapultar os Liquid para a primeira posição das equipas de esports mais lucrativas de sempre, destronando os Evil Geniuses e colocando o seu capitão Kuroky como o primeiro atleta de esports a ultrapassar a fasquia dos 3 milhões de dólares a título pessoal.
É um verdadeiro marco para os Team Liquid, que foram já imortalizados dentro do jogo, nas lojas de ambas as bases. É também um tremendo salto qualitativo (e quantitativo) para jogadores como o Libanês Gh, profissional há menos de um ano que vê os seus créditos firmados como um dos melhores jogadores do mundo. Quanto ao jogo, a riqueza e o equilíbrio de um metagame onde virtualmente todos os heróis foram usados com sucesso, a certeza da adição de dois novos heróis, anunciados em pleno palco do The International, num update para um futuro próximo e uma nova season que, face à abertura da Valve ao investimento privado, vê o número de eventos aumentar… os 2 Majors da Valve dão lugar a 11 Majors em parceria com outras organizações. Juntam-se-lhes 11 Minors em parcerias semelhantes, com premiação mínima de 300 mil dólares. Uma nova season que mudará o panorama do Dota 2 e das qualificações para aquele que é o maior e mais desejado evento do mundo dos esports: o The International.
Crónica do Rubber Chicken pela mão do Ricardo Mota
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