A RTP Arena esteve à conversa com Ricardo “fox” Pacheco para perceber o que levou às recentes mudanças na equipa de Vodafone Giants, assim como a forma como o jogador português olha para a rivalidade com os sAw.

Olá Ricardo! Fala-me um pouco da situação atual da equipa.

fox: Estamos a começar de novo outra vez com a entrada do pr. Temos vindo a jogar com o Cunha nos playoffs da ESEA porque não dá para fazer a alteração de lineup até ao fim da temporada, mas começamos a treinar esta semana e está a ser positivo. A situação com o Cunha é um pouco ingrata, porque quando eu fiz a equipa ele teve de mudar todas as posições e essencialmente não estava a conseguir ficar ao nível que esperávamos, pois era tudo novo para ele. Nós também não queríamos esperar pela fase de adaptação, temos vários torneios importantes para a equipa a começar e como não víamos grande progressão, optámos pelo mudança. Não é culpa dele, ter de mudar roles de repente não é fácil e decidimos colocar o pr na equipa porque é um jogador que faz as posições que precisávamos.

Conseguiram a qualificação para a ESEA Main, estando ainda em jogo uma possível qualificação para a Advanced. Sentes que o objetivo já está cumprido nesta primeira season de regresso à ESEA Open?

fox: Não! O objetivo mínimo era este, chegar à Main, mas o principal é chegar à Advanced. Claro que é uma liga complicada porque só passa uma e existem boas equipas, mas custe o que custar, o objetivo principal é sempre chegar o mais alto possível, custe o que custar.

Estiveram recentemente em bootcamps ainda com o Cunha. Como foi a experiência?

fox: A experiência foi boa, não tinha ideia que os jogadores que fui buscar estavam tão evoluídos, pensei que iria ter de trabalhar mais um pouco em certos aspetos do jogo, mas, falando bom português, calaram-me a boca, porque não estava à espera que tivessem o game sense e a forma de ver o jogo que têm, surpreenderam-me muito pela positiva. No entanto, apesar de não ser total perda de tempo, porque se aproveita sempre alguma coisa, ao fim de dois bootcamps a LPCS ter sido adiada devido ao coronavírus e decidirmos mudar de jogador teve algum impacto na sua eficácia. Vamos ter de voltar atrás, o que é um bocado ingrato para a equipa, pois o tempo que estivemos nos bootcamps nunca vai ser totalmente aproveitado.

Depois das declarações polémicas durante a fase regular da WGR LPCS, cumpriste um mês de suspensão. Qual a sensação de estar de volta?

fox: É boa, não pensei que me custasse tanto ficar parado e ver os meus jogadores a competir. Pensei que ia custar menos, tendo em conta os 20 anos de jogo que tenho em cima, pensei que ia levar mais na boa. Continuamos a treinar durante esse mês, mas a motivação para mim nunca foi a mesma, apesar de estarmos a pensar no futuro. Treinávamos até à hora dos oficiais, que na altura eram os da ESEA, e depois entrava o meu irmão e eu ficava a ver… e com 20 anos de carreira, os oficiais continuam a ser o que mais me motiva e custou. Mas teve de ser, foi merecido, não há muito a acrescentar.

O que sentes que o pr possa trazer à equipa que o Cunha não conseguia?

fox: Para ser sincero, o pr é um jogador que eu admiro desde os tempos da antiga equipa dele, quem me conhece sabe que sempre falei bem do miúdo, via muitos jogos dos OFFSET e era um rapaz que me chamava a atenção pela atitude que mostrava dentro do jogo, sabe tomar decisões corretas, é agressivo quando tem de ser e estava na minha cabeça já há algum tempo. Quando fiz esta equipa pensei em colocá-lo cá, a ideia era ir buscar os 3 dos eXploit, mas já tinha dado a minha palavra ao Cunha que, caso fizesse uma equipa portuguesa (até porque estava em negociações com uma equipa estrangeira) que ia contar com ele. Na altura não quis falhar com a minha palavra e disse-lhe que ia contar com ele, apesar da minha ideia inicial não ser essa. Dei-lhe a oportunidade e ele não a queimou, de todo. Simplesmente fui buscar o trio dos eXploit e como eles já têm uma base de jogo como equipa, não faria muito sentido estar a trocá-los a eles no plano de jogo ao invés do Cunha, visto que eles já estavam muito mais habituados. Como tínhamos pouco tempo para nos adaptarmos, o plano seria eles continuarem a fazer o que faziam, acrescentavam-me a mim como AWP e meter o Cunha. Só que é como eu te digo, foi ingrato para o Cunha. Eu falei com ele, ficamos na boa, e mesmo como jogador eu senti que ele não se estava a divertir a jogar, o que desmotiva… decidi, falei com ele, disse-lhe que achava que como jogador ele estava a ficar estagnado e foi tudo amigável. Não há qualquer stress entre mim e ele, além de que também já tem equipa e desejo-lhe tudo de bom e do melhor, é um rapaz 10 estrelas.

Ele é conhecido como um dos jogadores portugueses mais dedicados…

fox: Sim, sim, é muito dedicado ao jogo, mas eu tenho uma ideia dentro do jogo e é a minha experiência que me leva a pensar assim, às vezes a dedicação em estar sempre a tentar aprender coisas – que é muito bom, como é óbvio – mas depois chegar ao jogo e não conseguir fazer aquilo que estás a tentar aprender, não vale de nada… mas sim, é um rapaz super dedicado, sempre a tentar melhorar, não entra em tilt por fazer coisas erradas. Tem a mentalidade correta, e desejo-lhe tudo de melhor, é realmente dos que merece na scene portuguesa!

Achas que a tua ausência dificultou a evolução da equipa?

fox: Isso é mais que óbvio, temos um plano de jogo comigo e vai sempre prejudicar. O meu irmão tentava fazer o que era suposto eu fazer, e apesar de ele ter feito bons jogos e terem ganho quase todos os jogos da ESEA, nunca é o mesmo. Há muita gente que conhece o meu irmão, já foi jogador de CS, já jogou na minha equipa, não é nenhum “no-namer”, sabe jogar, sabe as bases, faz o que lhe pedem… serviu perfeitamente para o que foi preciso na altura. Só fiquei mesmo chateado por não ter jogado os qualificadores abertos do Major, que é o principal objetivo de qualquer jogador, ainda para mais para mim… mas cumpriu-se o que era necessário na ESEA, que é um dos objetivos principais. Só tenho de lhe agradecer.

Como é que o COVID-19 tem afectado a tua vida profissional?

fox: Eu acho que os jogadores, no meio de tanta tristeza e miséria, não se podem queixar, porque continuamos a ter o nosso trabalho, continuamos a receber o nosso salário, sem cortes, por isso dentro de todo o mal, somos dos poucos que não somos afetados. A única coisa má são os torneios, que prevejo que qualquer um até setembro ou outubro irá ser jogado online e eu detesto jogar encontros decisivos online, porque não mostra aquilo que cada jogador vale e é a única coisa que me custa no meio disto tudo, mas é o que é. Nós, jogadores, temos de estar contentes no meio de tanta tristeza porque conseguimos trabalhar de casa, fazer os nossos jogos, os nossos treinos… e certamente há pessoas a passar por uma fase bastante complicada.

E a vida pessoal?

fox: Não mudou muito, apesar desta situação afetar muito o tempo que posso estar com o meu filho. Como toda a gente sabe, sou pai solteiro, tenho dias contados para estar com ele e os poucos que posso estar com ele só o vejo à noite. Tenho de me levantar cedo para o ir levar a casa da mãe que está fechada em casa de quarentena, como toda a gente, e não posso ir para o parque brincar com ele. Fazia isso com ele no pouco tempo que tinha, e custa-me muito não o poder fazer agora. Não poder fazer mais coisas com ele é a única coisa que me custa no meio de tudo isto, porque de resto a minha vida está muito parecida, sempre foi assim, trabalhar e jogar de casa.

Fotografia: BLAST

O core dos antigos Giants, actuais sAw, já vos ganharam, assim como vocês a eles, e são consideradas por muitos como a melhor equipa nacional. Conhecendo-os bem, quais são os pontos fortes e fracos da equipa?

fox: Não é uma questão de terem pontos fortes ou fracos, eles essencialmente mantiveram 3 jogadores da equipa antiga, fizeram um upgrade, supostamente para melhor, com o stadodo e com o JUST, tirando-me a mim e ao Cunha. São claramente os favoritos a vencer os torneios em Portugal, nós vamos tentar provar o contrário, mas para responder à pergunta que me fizeste… o ponto fraco deles é o que tenho vindo a dizer, já do meu tempo de equipa, é o facto de um dia conseguirem ganhar às melhores equipas que andam por aí em qualificadores e no dia a seguir perderem com uma equipa que está muito abaixo do nível deles. É algo que já está instalado nas melhores equipas portuguesas há vários anos. As equipas nacionais não conseguem ser consistentes ao nível das equipas tier 1 e tier 2… eu acho que o problemas das melhores equipas de cá passa pela consistência, porque acho que tanto o antigo como a atual projeto deles consegue ganhar a equipas de topo, mas basta não estarem num dia sim, ou até num dia mais-ou-menos, que já perdem com equipas mais fracas, que se calhar não deveriam perder. A nós acontece-nos o mesmo ainda, não te sei bem explicar o porque, mas parece que se sente um pouco pressão de querermos provar que somos realmente melhores e leva as pessoas a não jogar ao nível normal. Acho que esse é o principal problema deles, nosso e de qualquer equipa de topo nacional.

O que é que os Giants precisam para ganhar a uma equipa como os sAw?

fox: Não é preciso nada de especial, porque como já deu para ver em diversas situações, a minha equipa jogou contra eles com o meu irmão durante um dos qualificadores do Major e ganhou, depois jogaram outra vez e levaram rape. Lá está, eu costumo dizer que jogos entre equipas nacionais nunca têm nada a ver com, por exemplo, os sAw contra a melhor equipa espanhola, Movistar Riders, ou até os Giants contra Movistar. Isto porque as equipas entram no jogo de forma diferente, estudam-se de forma diferente, estamos mais habituados a jogar entre equipas nacionais e isso pode ter algum peso, apesar de eu ainda não ter conseguido jogar contra eles. São jogos completamente diferentes, até o hábito de nos enfrentarmos frequentemente deixa as pessoas mais à vontade. Por exemplo, se jogássemos agora contra uma equipa como os Astralis íamos entrar de forma totalmente diferente do que se fosse contra os sAw. Acho que percebes o que quero dizer, mas a minha opinião é como a do resto do pessoal, pelo simples facto de terem muito mais tempo de treino do que nós neste momento e do que qualquer outra equipa nacional. Começaram logo a treinar mal saíram dos Giants, e continuam a treinar muito que eu sei. Entretanto, levei a suspensão pouco tempo depois de termos finalizado a equipa, o que levou a mais um mês parado. Apesar de continuar a treinar com eles, havia dias que só fazia um mapa ou dois antes dos oficiais, estivemos um pouco estagnados e isso levou-os a distanciar-se um pouco de nós. Mas mesmo não tendo em conta esses fatores, obviamente que são eles os favoritos, e a nós só nos cabe trabalhar para provar o contrário, que é para isso que trabalhamos diariamente. Mas também dá-nos igual se jogamos contra os sAw, OFFSET, Movistar Riders ou até MIBR. O meu principal objetivo é jogar o maior número possível de oficiais e torneios, começar a criar mais calo no pessoal, aprender com os erros e melhorar… e no futuro, quando os torneios em LAN voltarem, mostrar boa figura. Nós, que temos alguma experiência, devemos ter vantagem em LAN face a jogadores menos experientes, e o mesmo poderá ter impacto de forma inversa online. Vamos apenas continuar a trabalhar todos os dias para ganharmos a todas as equipas!

Quais são os planos dos próximos tempos para os Giants?

fox: Para já estamos à espera das decisões da LPCS, temos também a MLP que está a poucos dias de começar… Na LPCS vamos jogar contra a FTW, acho que vai ser online, apesar de ainda não haver datas marcadas. Fora isso, é jogar tudo o que for qualificador aberto, a ESL Masters Espanha e a One Tap, que são bons torneios para nós, e continuar a treinar todos os dias. Como te disse há bocado, a pandemia não nos afeta muito e vamos continuar a treinar e colocar horas todos os dias e tentar evoluir o máximo possível.

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