Terminou este fim de semana o Boston Major. O evento de 3 milhões de dólares, um dos 2 anuais que a Valve se propõe organizar, além do International, reuniu milhares de equipas de todo mundo que foram sendo filtradas e peneiradas até aos 16 finalistas que pisaram o palco este fim de semana. Pelo caminho, muitas surpresas, com Na’Vi, Secret, Liquid e Fnatic a ficarem de fora e a caírem perante equipas bem menos cotadas nos Open Qualifiers e nos Qualifiers, esse tremendo mar de equipas a acotovelarem-se por um lugar na final e pelos mais de 60.000 dólares garantidos. Desses Open qualifiers, dessas trincheiras, alguns almejaram chegar aos Qualifiers e, desses, apenas dois de cada região chegaram ao grande palco em Boston.
O torneio começara desde logo em Outubro, com os Open Qualifiers regionais, cada um com um máximo de 1024 equipas a lutarem entre si por uma chamada para os Qualifiers. Apenas duas equipas dos Open Qualifiers para 8 equipas convidadas, em verdadeiros grupos da morte onde apenas dois teriam lugar no grande palco. Grupos onde equipas vencedoras de The International caíram, sem apelo nem agravo. Foi nesta fase que Na’Vi, Invictus Gaming e Alliance caíram… os vencedores dos três primeiros The International, respectivamente. Não é coisa pouca. A scene de Dota 2 está em constante mudança. E, se o The International 5 levou equipas dos Open Qualifiers à grande final – e a mais de 2 milhões de dólares no bolso de uma equipa que era, até então, meramente amadora – este Boston Major viria a trilhar por caminhos semelhantes. Mas mais nomes grandes caíram nesses Qualifiers, com equipas de renome, como os Team Secret, Fnatic, Vici Gaming, Team Liquid e Vega Squadron a juntarem-se à lista dos que não pisariam o palco principal em Boston.
A fase final arrancou com a fase de grupos, para definir as brackets, de que já falámos aqui. O prato principal, com 16 equipas em single elimination, prolongar-se-ia até ao final de sábado, com muitas, muitas mudanças. Surpresa logo no arranque, com os Wings Gaming, ainda a polir o novo recorde do Guinness por terem amealhado mais de 9 milhões de dólares no The International deste ano, se viram arredados, sem apelo nem agravo, por uns reformulados Evil Geniuses que haviam vencido o anterior The International. Dois a zero, sem espinhas, com uns Evil Geniuses dominadores a não acusarem a perda de dois jogadores importantíssimos como “old man” Fear e PPD. A recém-formada Team NP marcaria uma das surpresas da primeira ronda, ao eliminar a powerhouse chinesa dos EHOME. Também da China outra pequena surpresa, com uns LGD.FY a vencerem por 2-0 a sua equipa principal… os LGD perdiam e venciam ao mesmo tempo. Mas a verdadeira surpresa do torneio, o início do conto de fadas seria no jogo entre os vencedores do The International 4, os chineses Newbee, e os gregos Ad Finem. Virtualmente desconhecidos, com menos de um ano, nascidos a partir de uns London Conspiracy que tinham tido relativo sucesso em alguns qualifiers europeus, os Ad Finem tinham amealhado pouco menos de 30 mil dólares ao longo do ano. Vindos de um país onde o Dota 2 não tem grande tradição e nunca tendo pisado um grande palco, pouco se sabia deles. E decidem entrar neste Boston Major de forma agressiva e imprevisível, eliminando os poderosos Newbee logo na primeira ronda. Estava dado o mote para o Boston Major. O Major que mostrou os Ad Finem ao mundo.
Na segunda ronda, mantêm a boa impressão e eliminam a última equipa chinesa do evento, com uma vitória por 2-1 ante os LGD.FY. No grande jogo da ronda, os principais favoritos Virtus Pro, que estavam num excelente momento de forma, caíram de forma categórica perante os Evil Geniuses. Eles que, estando a levantar-se, cairíam logo a seguir por 2-0 perante os reis dos Majors. Os verdes OG não dariam margem aos EG para respirar e terminariam a série com um 2-0 indiscutível. No outro jogo das meias finais, nova surpresa, claro. Ad Finem, os miúdos gregos, desta feita contra os finalistas vencidos do The International 6. A meteórica carreira dos Digital Chaos, que, em menos de um ano, os levou a um segundo lugar no TI e a mais de 3.5 milhões em carteira levaria aqui um abalo com uma avassaladora derrota por 2-0 ante os desconhecidos da Grécia.
O conto de fadas acontecia. Os desconhecidos estavam na final. A História repete-se. Depois de CDEC, Digital Chaos, OG, Wings… outra equipa relativamente nova chegava à final. Em Boston, gritava-se pelos gregos. Fazia-se o grito de guerra nas bancadas, inspirado no filme 300, inspiração do seu capitão SsaSpartan.
Do outro lado, os reis dos Majors. OG. Reformulados, após a saída daquele que é, para muitos, o melhor jogador do mundo, Miracle-, além de dois outros jogadores. Três caras novas, e OG estavam de novo na final. Best of five. A coisa começou em sentido único, com os OG a puxarem dos galões e a esmagarem os gregos em dois jogos seguidos. Depois… um dos melhores jogos de Dota 2 de que há memória. Uma verdadeira matança que, em dadas alturas, chegou a somar mais de duas mortes por minuto. Um jogo absolutamente electrizante que manteve milhões de espectadores agarrados aos ecrãs e televisões durante 1h19 e que contou com 114 mortes e com um final de levantar o estádio. E os Ad Finem estavam em jogo novamente. Tudo era possível.
Mas os OG são os reis dos Majors. Em três, haviam vencido dois. A única equipa a vencer mais do que um evento da Valve. Perderam três jogadores, mas refizeram a equipa com duas certezas: aquele que era visto como um dos melhores Mids do mundo, S4 entrou na equipa para jogar como Offlaner. E Jerax, o sr. Earth Spirit, vindo dos Liquid. No Mid, um desconhecido, o Australiano ana. Foi o suficiente. No derradeiro jogo, os OG eliminaram os Ad Finem que, ainda assim, saem de Boston de cabeça erguida e com uma verdadeira legião de fãs e com 500 mil dólares. Mais um milhão de dólares na conta dos OG, ele que haviam sido criados há pouco mais de um ano e que já entraram no top 20 das equipas mais lucrativas de sempre. Três Majors em quatro! Absolutamente dominadores!
Crónica do Rubber Chicken pela mão do Ricardo Mota
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