O Hearthstone é muito mais do que o sistemas Ranked ou Arena do jogo. Todos os dias, jogadores de todo o mundo competem em torneios online, através de plataformas como a Strivewire ou Battlefy, ou mesmo offline em Lan’s ou outras convenções, com o objectivo de ganhar diversos prémios que vão desde periféricos a largas quantias de dinheiro. Para estes torneios, foram criados diferentes formatos para que os jogadores pudessem competir em séries intensas de jogos.
O meu nome é Nuno “Rapture” Ribeiro, jogador e streamer da For The Win eSports e hoje venho-vos explicar as diferentes estruturas de torneios e os formatos Conquest e Last Hero Standing.
Quanto às estruturas de torneios, estes podem ser de vários tipos: Single Elimination, em que uma derrota implica que o jogador está automaticamente eliminado do torneio; Double Elimination, em que o jogador tem de perder duas vezes para ser eliminado; Round Robin, em que um jogador tem de jogar contra todos os outros; e Swiss, estrutura popular em torneios de Trading Card Games. Dentro destes tipos de torneios, há ainda diferentes formas de serem disputadas as séries de cada jogo.
Tipicamente, a mais comum em séries Best of 5 com uma Ban. Isto é, cada jogador traz 4 Decks de 4 classes diferentes e, antes de começar o primeiro jogo, o jogador escolhe uma das 4 classes do adversário para a banir, ou seja, o adversário não pode usar o Deck dessa classe nessa série. Isto é útil para eliminar um Deck do adversário que seja um mau matchup para os nossos Decks e que interfira com a nossa estratégia. Após a Ban ser feita, os jogadores disputam a série, conforme o formato para os jogos estabelecido – é aqui que entram os formatos Conquest e Last Hero Standing, que vou explicar mais à frente.
Porém, nem todos as séries de torneios são disputadas desta forma. A maioria dos torneios online, para que estes decorram de forma rápida, escolhe Single Elimination com séries Best of 3 sem Ban e apenas nas Semifinais e na Final se disputam séries Best of 5. Outros torneios, maioritariamente os Invitationals ou outros de “pequena” escala, chegam mesmo a impor séries Best of 7.
Last Hero Standing
Last Hero Standing, ou LHS, é o formato que foi implementado nos primórdios do Hearthstone competitivo. Neste formato, o vencedor de uma série é determinado por aquele que conseguir ganhar a todas as classes do adversário. Isto é, o vencedor do primeiro jogo da série mantém o Deck que usou enquanto que o adversário é forçado a mudar de classe, passando o Deck derrotado a deixar de ser elegível para o resto da série.
Os prós deste formato passam essencialmente pelo quão recompensante é o processo da cuidadosa escolha de qual classe usar em cada jogo da série. Se o jogador não fizer a escolha correcta, arrisca-se a ver uma classe eliminada e não ter o chamado Counter a um dos outros Decks do adversário. Mas é neste processo que podem decorrer alguns Mind Games, chamemos-lhes assim. Por exemplo, suponhamos que os dois jogadores têm uma lineup idêntica composta por Aggro Shaman, Zoo Warlock e Freeze Mage. O jogador A reflecte sobre com qual Deck abrir a série:
- Teoricamente, o Shaman só seria favorecido contra o Mage, tendo no Warlock um jogo desfavorável e contra o Shaman um 50/50;
- O Mage, sendo desfavorecido contra o Shaman, tem um 50/50 contra o Mage adversário e a vantagem teórica contra o Warlock;
- Posto isto, o Zoo Warlock tem o 50/50 com o Warlock adversário, o jogo favorável contra o Shaman e o desfavorecido contra o Mage que, no entanto, pode ser próximo dos 50% se tiver um início agressivo.
Tendo todos estes factores em consideração, o jogador A chega à conclusão que abrir a série com o Zoo Warlock é a melhor opção. Mas e se o jogador B pensou da mesma forma? E, se ele pensou, será que assumiu que A ia abrir de Warlock e decide então abrir de Mage? Reflectindo sobre tudo isto, o jogador A decide então abrir com o Aggro Shaman e vê que o jogador B abriu com Freeze Mage, um matchup teoricamente favorecido para si! Todo o procedimento de reflexão e ponderação de todas as escolhas foi recompensante para o jogador A!
Este género de Mind Games acontece bastante em competição ao mais alto nível. No entanto, o formato LHS também tem os seus contras: uma escolha errada de classe ou mesmo da lineup no geral facilmente leva a que a série se resuma num 3-0, uma vez que o jogador vencido vê o seu leque de opções de Decks ficar mais curto a cada derrota, perdendo assim Decks que podiam ser o tal Counter a outro dos Decks do adversário, o que limita, digamos, o seu espaço de manobra. Posto isto, o aconselhável seria um jogador construir uma lineup com uma variedade de estratégias, em vez de apenas Decks Aggro ou Control.
Formato Conquest
O formato Conquest é o formato mais comum hoje em dia. Neste formato, o vencedor de uma série é determinado por aquele que conseguir vencer um jogo com cada um dos seus Decks. Isto é, o vencedor do primeiro jogo da série é obrigado a mudar de Deck enquanto que o adversário pode manter ou alterar a classe que jogou. O Deck vencedor deixa assim de ser elegível para o resto da série.
Os prós deste formato podem ser considerados os contras de LHS: em Conquest é mais difícil de vermos séries a resumirem-se a 3-0’s, uma vez que o jogador vencedor é obrigado a usar todos os seus Decks e ter de ganhar uma vez com cada um, enquanto que o adversário não perde nenhuma das suas possíveis escolhas. Contudo, isto pode ser um ponto negativo na medida em que é recompensante trazer uma lineup que consista apenas nos melhores Decks do jogo, mesmo que não haja uma estratégia por detrás dessa escolha, uma vez que, sendo os melhores Decks, é provável que consigam obter uma vitória contra matchups desfavoráveis por serem precisamente os Decks mais fortes.
Por este motivo, a maioria dos jogadores profissionais considera que a ordem de escolha dos Decks em Conquest não importa. Isto não é derradeiramente verdadeiro pois, por exemplo, suponhamos que o jogador A tem uma classe na sua lineup que, teoricamente, só tem um jogo favorecido contra as classes de B. O jogador A tem sempre de pensar sobre qual acha que será o Deck com que B irá jogar o próximo jogo pois, se B decide optar por essa tal classe e A não optar por usar a tal que tem o matchup favorável, se B conseguir ganhar com esse Deck, o jogador A não irá conseguir obter a tal vitória que precisaria para essa classe passar, não conseguindo assim ganhar a série.
Algo comum em Conquest é vermos lineups dedicadas a dar Counter a um Deck em específico. Suponhamos uma lineup que consista em Control Warrior, Control Paladin e Freeze Mage: estes três Decks têm em, por exemplo, Zoo Warlock um matchup favorável. Ou seja, se o adversário deste jogador tiver Zoo Warlock na sua lineup, por mais favorecidos que sejam os jogos com os seus outros Decks, como tem sempre de ganhar um jogo com o Warlock, vai ver essa tarefa muito difícil por ter de se deparar com 3 matchups teoricamente desfavoráveis.
Conclusão
Ambos os seus formatos têm os seus prós e contras. Qualquer um deles recompensará sempre o jogador com melhor preparação e Decks teoricamente mais fortes. Contudo, o RNG poderá ter sempre o seu impacto e fazer com que um jogo com uma mão horrível, mesmo que seja um matchup favorável, prejudique a estratégia do jogador e é aqui que as diferentes estruturas de torneios entram, na medida em que Double Elimination ou Swiss procuram minimizar esse impacto.
Por hoje é tudo! Para a semana estarei de volta aqui ao RTP Arena, onde vos irei explicar como construir uma lineup para torneio. Até lá!
Segue o “Rapture” nas redes sociais:
Facebook
Twitter