Terminou ontem o Kiev Major. Foram mais de 400 jogos, dos qualifiers até à final, para mais de 68 milhões de espectadores espalhados um pouco por todo mundo. Um milhão de dólares para os vencedores, metade disso para o finalista vencido e muita, muita competição acesa num dos torneios mais importantes do mundo dos eSports. Um Major faz ou desfaz uma equipa. Veremos como correram os jogos deste fim de semana, com os quartos de final, meias finais e finalíssima.

O primeiro jogo de sábado colocou frente a frente os Invictus Gaming contra os Team Liquid. Seria a equipa chinesa a vencer esta série por 2-1, com o derradeiro jogo a ser decidido em 36 minutos, depois de os IG ganharem vantagem aos 15 minutos. Uma vez na frente, a equipa soube agarrar com unhas e dentes a vantagem, tirando partido de um Xxs num excelente momento de forma, com o seu Dark Seer a liderar a tabela de networth, à frente dos carries de ambas as equipas. Seguiu-se Faceless contra OG e o mundo tremeu. Os Faceless entraram a matar, com uma arrasadora vitória em 27 minutos, por 21-5. Os OG, os reis dos Majors, a capitularem, a tremerem. Seria sol de pouca dura, no entanto, com estes a recompor-se e a vencerem o jogo seguinte com exibição também demolidora. Na negra, Ana, a jogar Terrorblade como Mid, abriu o livro e carregou a sua equipa para a vitória. 20-2-7 e as meias finais ali mesmo ao lado. O terceiro jogo do dia ditou a vitória de uns dominadores Virtus.pro frente a uns VGJ que chegaram a assustar a equipa que jogava em casa, mas que não foi o bastante para garantir a passagem às meias finais. O melhor estava reservado para o fim. Os estreantes SG e-sports, a equipa brasileira que pisava estes palcos pela primeira vez defrontava os Evil Geniuses, a powerhouse americana, a equipa mais lucrativa de sempre. 15 milhões de dólares marcam um estatuto que colocam os 11 mil dos SG a milhas de distância. É assim no palmarés, no historial e no banco. E foi assim no primeiro jogo também, com os EG a puxarem dos galões e a fazerem uma exibição ao seu nível. Valorosa, a equipa brasileira não baixou os braços e lutou até ao fim, determinados a provar que os comentários depreciativos de ppd (ex jogador, agora manager dos EG) fizera há alguns anos acerca da scene de Dota 2 brasileira. A derrota foi certa, mas os SG venderam-na bem cara e forçaram os EG a mais de uma hora de jogo. O segundo jogo também começa mal para os SG e o destino parecia traçado. Mas a equipa foi à luta, de dentes cerrados. 4dr, aos comandos de um Puck verdadeiramente infernal, liderou a batalha e David, aos poucos, erguia-se contra Golias, numa exibição de gala por parte dos SG a vergar os EG até à capitulação definitiva, ao fim de novo jogo com mais de uma hora. Era uma explosão de alegria de toda uma comunidade de eSports brasileira, com o apoio dos SK que, dominando a scene de CSGO, jogam e acompanham a scene de Dota 2 e apoiam a comunidade brasileira no desenvolvimento disto que se vai tornando, aos poucos, uma história de sucesso.


1-1. Tudo igual e os EG tremiam. Golias tremia e a terra tremia com eles. O público na Ucrânia ia-se convertendo aos pequenos brasileiros que ousavam fazer frente aos Evil Geniuses. O Black Hole de tavo entrará para os anais da história do Dota 2, a virar uma teamfight que definiu o rumo do jogo. Terceiro jogo, decisivo. Brilhante começo para os SG a penalizarem uma aggro trilane dos Evil Geniuses a definir um início de jogo frenético. Antes dos 7 minutos, o marcador já contabilizava 9 mortes, entre ambas as equipas. Os EG queriam recuperar e tinham pressa em fazê-lo. Os SG sem nada para perder, com os nervos dissolvidos ao fim de dois jogos, jogaram o que sabiam – e bem! Aos poucos os Evil Geniuses foram consolidando a vantagem, graças a um SumaiL inspirado. Mas, perto dos 35 minutos, os SG, liderados por um mágico c4t, recuperaram. Olharam os Evil Geniuses nos olhos e encetaram a recuperação. Não havia nada a perder. A scene brasileira estava de olhos no ecrã, o mundo vergado a assistir a uma equipa liderada por um suporte com 5K de MMR a destruir as primeiras barracks aos tubarões americanos. MMR não é tudo. E aqui entrou em campo o espírito de equipa e a coordenação. Aos 45 minutos de jogo, os EG estavam agarrados ao rato com suores frios. Até que uma fenomenal iniciação de SumaiL na zona do Roshan faz os SG tremer. Team wipe sem perder ninguém, um buyback de puro nervosismo forçado por parte dos SG e um Aegis of Immortal nas mãos de Arteezy. Era o começo do fim dos SG que caíram, mas caíram de pé sob o aplauso de um público que os descobriu e que passou do escárnio para a admiração. Os SG perderam nos quartos de final. Mas ganharam muito, muito mais do que perderam. Regressam a casa com 125.000$ e com as atenções do mundo dos eSports sobre eles. Falta um caminho a percorrer, ainda. Faltarão treinos e scrims com equipas de outras regiões e continentes. Mas a base, sólida, está lá, e espera-se que, do Brasil, venha cada vez mais e melhor Dota. Depois desta exibição, os SG deixaram de ser vistos como um acidente de percurso e discute-se a viabilidade da sua presença no próximo grande evento da Valve, o mítico The International.

Domingo arrancaria então com os IG a defrontar os Virtus.pro. A jogar “em casa”, os russos não fizeram a coisa por menos, com duas exibições determinadas a arrancar o clean sweep por 2-0 e a piscar o olho à final. Pouco depois, seriam os Evil Geniuses a entrar em campo contra os OG. Jogo grande que se esperaria equilibrado. Mas não, os reis dos Majors não desperdiçariam a hipótese de mais uma final e dariam, também eles, um clean sweep aos EG. A final estava traçada. OG contra Virtus.pro. OG, a única equipa a vencer mais que um evento Major da Valve, contra os Virtus.pro, com o público russo e ucraniano do seu lado. Os ursos cairiam no primeiro jogo da melhor de cinco, mas usaram isso para empatar de forma inapelável. No[o]ne, a jogar Ursa no Mid, definiu o ritmo do jogo e contemporizou até que RAMZES666 entrasse no jogo e carregasse a equipa para a vitória. 1-1. Tudo igual. Não, igual não, porque por esta altura os Virtus.pro perceberam a fórmula para discutir o jogo dos OG. Assim, no terceiro jogo, RAMZES666 esteve literalmente imparável aos comandos do seu Lifestealer. 7-0-15 a desmembrar completamente a equipa dos OG sem sequer visitar a Fountain. 2-1 para os Virtus.pro. Os OG foram forçados a mudar coisas para voltar à discussão da final. E assim foi no quarto jogo da série, a terminar em pouco mais de meia hora com Jerax a mostrar porque é que não se permite que ele jogue de Earth Spirit. Presente em 15 das 16 kills da sua equipa, Jerax esteve pelo mapa todo e foi ele quem carregou a sua equipa para a vitória. 2-2. Desde a final do The International 2013, o “El Classico” entre Na’Vi e Alliance, que um evento da Valve não precisava dos 5 jogos da final. Domingo a coisa voltaria a decidir-se no verdadeiro Best of Five.

Os OG entraram mal. O draft de Fly apresentou alguma falta de sinergia e demasiadas vulnerabilidades, pelo que, apesar de jogarem com uma Enchantress na Jungle, os Virtus.pro entraram a dominar todas as lanes. À meia hora de jogo, o fardo era pesado de carregar, com os OG a serem ultrapassados no marcador por números volumosos. 4-18. Mas a impetuosidade dos ursos, que os ajuda a abocanhar equipas incautas, é menos útil quando do outro lado está uma equipa experiente e paciente. Os 4-18 passaram a 20-28 numa final verdadeiramente eléctrica e, sob os aplausos de um público que ali estava para apoiar os VP mas que aplaudiu sobretudo os bons jogos e as boas exibições, os OG conquistariam o seu 4º Major.

Fechadas as portas em Kiev, as atenções viram-se agora para o The International que deverá ser anunciado já em Maio. O de 2016 bateu recordes e elevou a premiação acima dos 20 milhões de dólares. Veremos o que nos traz 2017. Até lá, resta aos OG celebrarem a sua quarta conquista.

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Crónica do Rubber Chicken pela mão do Ricardo Mota
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