Estamos em 2017. Toda a Península Ibérica é controlada pelas hostes de Counter-Strike: Global Offensive e League of Legends. Toda? Não. Algures, no seio da comunidade gamer portuguesa, uma comunidade resiste ferozmente contra o Imper…. contra isso.
 
Dota 2 é um dos jogos mais jogados no mundo. Não havendo grande informação precisa sobre o número de jogadores activos de League of Legends, podemos afirmar que será o jogo mais jogado, exceptuando casual games. A informação não é muito mais precisa no que concerne ao Dota 2. A Steam mostra-nos que há entre 12-13 milhões de jogadores activos no último mês, mas deixa de fora todos aqueles que se ligam ao mundo fechado dos servidores Perfect World, na China. E, por lá, estima-se que a massa de jogadores possa ser superior ao resto do mundo junto. Em todo caso, reafirma-se, Dota 2 é um dos jogos mais jogados do mundo e um dos esports com mais jogadores e espectadores, tendo sido destronado do rank da Steam apenas recentemente pela rising star que é Playerunknown’s Battlegrounds.
 
Se, em 2016, o campeão absoluto do número de eventos é Counter-Strike: Global Offensive, a verdade é que a diferença entre número de eventos do 2º para o 3º classificado – se considerarmos apenas o top 5 dos esports mais rentáveis – é de apenas 21 eventos. E, em terceiro nesse aspecto, Dota 2 esmaga a concorrência no que a valores envolvidos diz respeito, do alto dos seus 37 milhões de dólares em premiações, mais de 20 milhões acima do segundo classificado nessa questão, o omni-presente Counter-Strike: Global Offensive.
 
Certo é que, por cá, Dota 2 não está entre os mais jogados. Será uma das questões na sexta-feira, dia 6, foi discutida numa talk promovida pelo Tiago “popperz0r” Silva e por mim, no Famalicão Extreme Gaming. Mas, com uma comunidade inferior em número, a verdade é que a DotaPT vai sendo bastante activa. Não são muitas as comunidades que possam dizer que contaram com perto de 60 equipas no Fraglíder Steelseries Cup. Ou que tenham marcado presença na XL Party ou no Meet uP. Mas Dota 2 esteve por lá… e noutros torneios mais pequenos. Recentemente, a ASUS deu um forcing à comunidade, com a aposta no qualificador nacional para o ROG Masters que juntou 14 equipas e dinamizou todo um qualificador no espaço de uma semana, com jogos de bom nível que por aqui transmitimos.
Com bons praticantes, onde se destacam nomes que ombrearam com alguns dos melhores jogadores mundiais, surgem Padrinho ou popperz0r na linha da frente. Mas também Hendrix, Gustamp, sQuo, Destro, DarkOgre, Jota ou Patrão. Faltará a Portugal uma equipa com projecção internacional, sem dúvida. Mas não faltam por cá executantes que poderiam efectivamente competir a esse nível. E, por norma, há um nome que surge associado a quase todos eles. Hugo “Kazhw” Caseiro é uma das pessoas mais activas da comunidade. No seu historial figuram tarefas de management de alguns dos jogadores mais proeminentes da actualidade, mas também equipas… Era ele uma das pessoas por trás dos Balkan Bears Corleone, uma espécie de incubadora onde jogaram nomes como Miracle-, W33, Yapz0r, Levi ou o “nosso” Padrinho. Foi também ele que esteve por detrás dos Planet Dog (agora HellRaisers) e do seu apuramento para o The International 2017. O seu espírito empreendedor e incansável tem feito dele uma espécie de Astérix do DotaPT e a sua mais recente aposta é também um sucesso e um verdadeiro caso de estudo.
 
Falo da DotaPT InHouse League, uma Liga criada na plataforma FaceIt e que, em poucos meses, uniu uma comunidade num espírito competitivo da velha guarda. Não há prémios – ainda! há, segundo consta, planos para tal – nem equipas. Não há horas marcadas, não há árbitros. Há, apenas, gente a jogar. Muita gente a jogar muitas vezes. Uma Liga interna não é apelativa para todos. Não há parte do apelo que existe em jogar uma boa partida Ranked. Não se ganha MMR. Não se ganham skins ou cumprem objectivos e quests pontuais que venham nos Battle Passes. Mas há um espírito comunitário que me faz recordar com nostalgia tempos dos primórdios dos esports. Há uma fila de pessoas que se prestam a jogar. Atingindo as 10, dois jogadores seleccionam, à vez, jogadores para a sua equipa, muito a exemplo dos jogos de futebol na rua, onde um a um, se escolhem os jogadores e, no fim, o gordo vai à baliza.
 
A expressão não entra aqui por acaso. Uma das características deste formato, que o torna especialmente apelativo para jogadores menos experientes é precisamente essa. Num universo de jogadores cujo MMR vai de 1 a 10.000 (Abed foi o primeiro a chegar aos 10.000, conforme aqui noticiámos há pouco tempo), a liga permite a muitos jogadores com ranks abaixo da média (estipula-se que seja de 2.500) jogar em equipas com jogadores de 5.000 e 6.000. São experiências de aprendizagem e de convívio, nos servidores de TeamSpeak ou de Discord da comunidade, que fazem com que cada vez mais gente se vá inscrevendo, mesmo para jogar a feijões. A liga conta com mais de 210 jogadores inscritos e, no mês passado contabilizou perto de 190 jogos. Dá uma média de 6 jogos por dia, com jogos a qualquer hora do dia, isto para um evento sem grande divulgação para além do Facebook do DotaPT e do seu grupo na Steam. O apelo tem feito voltar alguns jogadores da velha guarda, e os serões em volta de jogos, com a conversa a fluir amigavelmente nas salas de conversação por voz têm sido muitos. De igual forma, Kazhw dá conta de um bom número de jogadores mais inexperientes que têm vindo a aproveitar a interacção com os melhores jogadores portugueses para elevar o seu jogo, dinamizando a criação de equipas e a participação neste e noutros eventos.
Segundo Kazhw, o plano agora é fazer crescer ainda mais a liga, encontrar um sponsor que torne as coisas mais apelativas e que, mostrando que o investimento traz frutos em termos de visibilidade e marketing (muito a exemplo daquilo que o ROG Masters mostrou), se abra a porta para novos investimentos para eventos maiores cá em Portugal.
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Crónica do Rubber Chicken pela mão do Ricardo Mota
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