Atomic Heart é uma estreia inesperada de um estúdio novo, Mundfish, que procura entrar em grande nesta indústria – será que conseguiu? Vamos descobrir neste RTP Arena Reviews!

Atomic Heart conta a história de um mundo onde um cientista da União Soviética, em 1955, inventou uma substância, o Polymer, que deu origem a um desenvolvimento científico enorme e ajudou à vitória na 2ª Guerra Mundial. Além disso, e de forma a reconstruir a União Soviética após a guerra, foi criada uma unidade de inteligência artificial coletiva pelo mesmo cientista, Dmitry Sechenov, com o nome de Kollectiv 1.0, que unia todos os robôs para uma maior eficácia laboral.

O jogo arranca no dia de lançamento do Kollectiv 2.0, uma nova versão, que procurava integrar o Polymer no corpo humano para que os robôs pudessem ser controlados com um simples pensamento. Mas as coisas não correm bem… e o caos instala-se.

Os robôs viram-se contra os humanos, quais autênticas máquinas de guerra, matam milhares de inocentes, e cabe à nossa personagem, o Agent P-3 ajudar a resolver este problema, que rapidamente descobre que o lançamento da nova versão do Kollectiv foi sabotada por uma das pessoas responsáveis pelo seu desenvolvimento.

Portanto, temos uma receita que, à primeira vista parece bastante interessante e um protagonista com pouco carisma e que consegue ser um “cringe lord” a cada 15 minutos. No panorama geral, será que funciona?

Vamos começar pela personagem. O Agent P-3, que tem outro nome, mas que eu nem vou tentar pronunciar, não se lembra do passado, apenas que foi salvo pelo Sechenov, o inventor do Polymer. tem uma mania estranha de dizer coisas fora de sítio, chegando a tornar-se estranho em muitas situações. Mas essa… característica é inserida no jogo de tal forma que dá a ideia que a produtora tinha mesmo essa intenção, o que acaba por ter alguma piada e chegou a conseguir fazer-me rir ocasionalmente. Não me posso queixar!

Atomic Heart

A nossa personagem é também acompanhada por uma luva inteligente e consciente, com a qual tem conversas quase constantes. É fácil de comparar a um Mimir do God of War, seja a nível da quantidade de interações como ao humor apresentado. Facilmente das “personagens” de que mais gostei.

É também com essa luva que temos acesso aos poderes que começamos a desbloquear desde cedo no jogo. Podemos usar o polymer com a luva e combiná-lo com vários elementos para conseguir atacar com gelo ou fogo, por exemplo. Também utilizamos a luva para apanhar magneticamente todos os recursos que serão necessários para upgrades ao longo de todo o jogo. E tenho de falar disto – apesar desta forma de looting constante ser algo recorrente em muitos jogos, a implementação no Atomic Heart torna-a menos chata. Basta manter premido o botão designado para looting e podemos simplesmente arrastar o nosso crosshair pelo ecrã que a luva recolhe tudo, evitando carregar repetidamente na mesma tecla, como em muitos outros jogos. Acreditem, num jogo com mais de 20-25 horas… faz diferença.

Relativamente ao jogo em si, seja a nível de ambiente, seja a nível de gameplay, são notáveis as influências de Bioshock, e o estúdio nem o parece querer esconder e acolhe isso de braços abertos. Desde a utopia presente no jogo, a grandiosidade e questões levantadas durante a primeira hora, muitos fãs de Bioshock Infinite vão sentir-se em casa desde cedo. E acreditem, a introdução do jogo é mesmo muito muito boa! O ambiente é incrível, a vontade de explorar é crescente… mas depois somos atirados para um buraco.

Apesar da primeira hora mostrar um mundo super interessante, somos rapidamente colocados num laboratório subterrâneo onde nos apercebemos que o jogo é quase inteiramente linear. O que não é mau, atenção, mas a forma como o faz inicialmente não me deixou a melhor sensação. Por exemplo, há uma parte neste laboratório inicial onde precisamos de recolher dois objetos para abrir uma porta. Tudo ok. Assim que abrimos essa porta, deparamo-nos com outra logo a seguir e em vez de dois objetos, precisamos de quatro… quer dizer, cada um dos objetos é recolhido numa sala inteiramente diferente e com um objetivo específico, mas mesmo assim… dá a ideia que estamos a fazer o mesmo e chega a tornar-se aborrecido.

Atomic Heart

Apesar de tudo, consegue manter a história interessante, pelo menos até se tornar previsível… e no final, essa previsibilidade de que desconfiava acabou por se confirmar. Mas se conseguirmos ignorar um pouco o rumo da história e focarmo-nos apenas no gameplay, existem muitos pontos a favor deste primeiro título da Mundfish.

A inspiração em Bioshock é logo um desses pontos positivos, principalmente para fãs. O combate também é desafiante ao início, assim como todo o ambiente, que se apresenta desde cedo visualmente incrível, com muito foco no mundo mais obscuro, acentuado pelo aspeto semi-perturbador dos robôs que nos atacam. Infelizmente, esses robôs acabam por ser repetitivos, à exceção dos bosses, que aparecem em fases pré-determinadas da história, como é natural em qualquer jogo linear.

Existem, no entanto, algumas partes mais abertas durante segmentos do jogo, mas deixam algo a desejar. O ambiente é incrível e dá vontade de explorar… mas não há qualquer incentivo para o fazer, à excepção de blueprints para novas armas e upgrades às mesmas. De resto, é um mundo vazio… é pena, porque a nível gráfico é mesmo muito bom!

E há outro ponto que se torna chato ao fim de algum tempo. Tendo em conta que os robôs estão interligados entre si através do Polymer, assim que se entra em combate com um, caso uma das 1000 câmaras espalhadas pelo mapa nos apanhe, rapidamente nos vemos a lutar com muitos mais. E isto poderia ser uma mecânica interessante se fosse mais perdoável, porque ao fim de algum tempo damos por nós a revirar os olhos com a frequência com que o sistema de alerta nos impossibilita de simplesmente explorar, sem haver forma de reduzir a probabilidade de sermos vistos.

Atomic Heart

Quanto a upgrades, de armas ou da nossa personagem, é tudo feito através de uma máquina que lembra um frigorífico, onde se podem trocar os recursos recolhidos ao longo do jogo. E a máquina é… assustadora ao início. Mas deixo isso para vocês verem, talvez até nem seja próprio a ser referido numa review que esperamos conseguir manter “family-friendly”.

Neste menu de upgrades temos a hipótese de melhorar as nossas armas através dos blueprints, fabricar munições, itens para recuperar HP, entre outros. Depois temos outro menu com muitos upgrades à nossa personagem e à luva, como novos ataques, mais HP, shields de Polymer, entre outros. É uma skill tree que traz muitas possibilidades ao jogador, e torna o jogo muito personalizável, de forma positiva!

Falando agora de alguns pontos menos positivos que não consegui ignorar: existem várias mecânicas de lockpicking, e já sabemos que nenhum jogo o faz de forma perfeita, mas Atomic Heart até me surpreendeu inicialmente. Existem várias mecânicas diferentes, como se fossem mini-jogos e até são engraçadas… até se tornarem repetitivas devido à quantidade de fechaduras presentes no jogo. Não havia necessidade, até porque chega a um ponto em que as portas que podiam simplesmente estar abertas.

Outro problema, e este vai depender de pessoa para pessoa, é o Field of View do jogo. Esta review foi realizada na versão de PC, e não existe, em nenhuma das versões, uma forma de aumentar ou reduzir o FOV. E acreditem… o FOV pre-definido é extremamente baixo, chegando a dar uma impressão de tunnel vision em algumas situações. A produtora não acha necessário porque diz que o jogo já tem um FOV alto o suficiente… não, Mundfish, essa não é a forma correta de fazer as coisas. Mas olha, fica o feedback.

Atomic Heart

Relativamente a performance, posso falar apenas da versão de PC e fiquei incrivelmente impressionado! Apesar dos visuais de qualidade elevada, o jogo está extremamente bem otimizado, incluindo na Steam Deck – é fácil de conseguir 60fps nas zonas exteriores com o jogo em Low e o mesmo valor em medium-high em zonas interiores. Estou mesmo muito impressionado!

Resumindo, é um título muito interessante, que merece ser experimentado (principalmente para quem tenha subscrição no Xbox Game Pass) e que faz muitas coisas bem! Os problemas existentes não são graves ao ponto de fazer jogadores desistir e é, sem dúvida, uma incrível estreia deste novo estúdio!

Podem experimentar Atomic Heart no PC, na PlayStation 4 e 5, na Xbox Series e na Xbox One – do que estão à espera?

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