O mercado dos videojogos é global. A competição que envolve o universo dos eSports também. Equipas de todo mundo lutam entre si para marcar presença nas finais e são essas que movimentam o público, os jogadores e o dinheiro em torno do espectáculo que são os eSports. Esses palcos têm, forçosamente, de ter uma localização física. Uma cidade que acolhe um evento destes beneficia do hype em termos de imagem e turismo que a coloca no mapa dos destinos mais apetecíveis dos fãs de eSports para determinada altura do ano. Tanto que alguns dos grandes eventos internacionais optam por ir como que racionando a venda de bilhetes, em servidores espalhados por vários continentes, com períodos cronometrados de abertura e fecho de portas, para acautelar a verdadeira invasão de gente a acenar dinheiro para agarrar um lugar. E cada um dos lugares corresponderá também a uma viagem, a alojamento, a refeições…. toda uma economia local beneficia deste tipo de eventos, daí que frequentemente surjam campanhas para que determinados eventos se situem na cidade A ou no país B. 
 
Por cá, as coisas também vão dando passos no reconhecimento desse factor económico e o crescente (ainda que relativamente curto) número de eventos a piscar o olho ao público estrangeiro disso é sinal.  
 
Mas estas questões prendem-se também com a política e o poder local. Se uma câmara decide apoiar um evento, por entender que isso trará benefícios para a sua cidade, essa cidade terá, à partida, outros argumentos para concorrer com outras para a localização de determinados eventos. E aqui a porca torce o rabo e dá razão àqueles que, por cá, reclamam mais apoios para os eSports. Sendo um mercado em expansão e ainda relativamente longe da maturidade, os eSports não granjeiam ainda o reconhecimento de todos, por preconceito ou puro desconhecimento. Exemplo disso são as questões que Gabe Newell, da Valve, abordou recentemente numa reunião amplamente discutida. Quando se trata de obter um visto para entrada nos Estados Unidos, “se és um cantor de ópera, é relativamente fácil obter um visto. Se venceste um prémio Nobel também”. Mas para jovens jogadores, alguns deles menores de idade, o seu estatuto laboral é dificil de enquadrar com as políticas de alguns países e os Estados Unidos da América são um dos mais gritantes casos onde isso sucede. O The International é um dos maiores eventos do mundo – de eSports ou não. E, ainda em 2014, uma das equipas apuradas teve de ser substituída porque não conseguiu arranjar vistos para os seus jogadores. E outra conseguiu-o apenas após várias tentativas. A situação é delicada. Podendo pairar sempre um espectro de favoritismo para com A ou B, há também a questão financeira e desportiva… uma equipa que logre atingir a fase final do The International traz para casa um mínimo de 50 mil dólares – o que é mais do que muitas equipas ganham no ano todo. Privá-la do acesso ao palco é, também, privá-la desse dinheiro e, claro, da hipótese de alcançar um patamar maior (e se os CIS não tinham uma carreira que indicasse grandes probabilidades de sucesso, tenha-se em conta que tanto Newbee como Wings Gaming estiveram nessa posição – e foi precisamente o The International a sua primeira vitória num grande palco). No caso, tenha-se ainda presente que o afastamento dos CIS da fase final ditou também o fim da equipa, o que ainda é mais grave e, claro, algo que a Valve pretende evitar ser associado à sua marca e eventos. 
 
Ora, isto para falar de Trump e das suas visões quanto à emigração e à emissão de vistos, que têm feito com que “gente que trabalha na Valve nem sequer possa ir para casa”, “não podem ir porque depois não podem voltar a entrar no país”! Essas preocupações estiveram na base da discussão que Erik Johnson e Gabe Newell tiveram recentemente sobre o impacto destas políticas nos eSports. Organizar um grande evento de eSports não é tarefa fácil, e fazê-lo tendo em conta a volatilidade e incongruência de algumas decisões políticas só piora as coisas. Organizar um dos maiores eventos do mundo e assistir ao seu lento desmoronar porque um número significativo de equipas não pode nele participar é o maior pesadelo de qualquer organizador. Daí que, embora a Valve pretenda manter alguns dos seus eventos nos locais habituais (Seattle recebe o The International desde 2012 e é também a cidade-sede da Valve, que encontra aí várias vantagens), esteja seriamente a considerar mudar-se de armas e bagagens para outros lugares, outras paragens. 
 
We’re gonna run the event no matter what”, disse Erik Johnson, em parte pressionando a presidência dos Estados Unidos da América, em parte lançando desde já a pedra para que o seu mais emblemático evento venha
a ter lugar num outro país. E, claro, há já vários braços no ar a pedir para escolher um ou outro país como destino preferencial.

 
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Crónica do Rubber Chicken pela mão do Ricardo Mota
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