No dia em que a Valve anunciou os convites para o seu próximo Major de Dota 2, a realizar em Kiev, na Ucrânia, ficamos a saber que entre os convidados para esta fase, estão duas equipas brasileiras, a estrear-se nos convites para os grandes eventos da Valve.
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Além do óbvio destaque para as duas equipas brasileiras a surgirem como únicas equipas convidadas do continente sul-americano (com o resto das vagas a serem discutidas através do qualificador aberto que deve contemplar perto de 1000 equipas), salta à vista a inclusão dos Midas Club Elite, uma equipa recente e com uma história bem caricata por detrás da sua criação. O Rubber Chicken e o RTP Arena foram falar com Filipe Astini, o homem que idealizou a nova coqueluche Brasileira dos eSports.
Rubber Chicken (RC) – Antes de mais, parabéns! O que é que este convite para o Major significa para ti?

Filipe Astini (FA) – Significa que estou no caminho certo para realizar meu sonho, e o sonho dos Brasileiros que também amam esse eSport. Significa que as madrugadas trabalhando na construção do projeto valeram muito a pena, significa que o nosso trabalho teve resultado. O nosso trabalho é sempre voltado ao longo prazo, eu não esperava algo assim tão rápido, mas isso nos trás ainda mais energia para trabalhar pensando no que o futuro pode nos trazer. Pode parecer pouco, mas para mim, significa MUITO!
RC – Fala-nos um pouco do projecto Midas Club… quando começou? Em que consiste?
FA – Nós começamos a trabalhar o Midas Club em Setembro do ano passado, porém a origem dele deu-se pela minha percepção de muito tempo atrás que o DOTA estava estagnado no país, eu comecei com vídeos sobre o mercado e explicando como todos os que desejam ser profissionais no eSports deveriam agir, mas eu senti que faltava um pouco do “walk the talk”, se eu estou falando para as pessoas que eles precisam de uma line-up estável para o time crescer, porque eu não faço o meu?
O projeto do Midas foca no 360 graus do cenário, queremos ter times, ligas, transmissões, aulas, notícias. Mas não podemos querer tudo de imediato.
Em sua primeira edição foi focado em ensinar competitivo para jogadores novos e oferecer uma liga individual para os jogadores encontrarem times, uma vez que a liga estava estabilizada focamos em desenvolver nosso time, foi quando em Novembro montamos nossa line-up, chamamos de Midas Club Elite, isso porque temos diversas salas (Open, Coaching, Elite) e a idéia desse time era pegar os melhores jogadores da nossa liga de ponta.
RC – Ou seja, criaram uma liga para os jogadores fazerem equipas e jogarem entre si. E depois recrutaram aqueles que desempenharam melhor em cada posição, é isso?
FA – A grosso modo sim! Mas a estrutura do Midas Club inteira é uma longa história. Simplesmente uma liga de alto nível não iria funcionar, os jogadores são tóxicos, há muito ego envolvido, você precisa de uma boa premiação e de outros fatores que motivem os jogadores a quererem estar lá e não “upando seus MMR’s”.
Eu comecei com uma série de vídeos diários explicando sobre o mercado de eSports e o porque seria interessante as pessoas investirem seu tempo nele, porque as pessoas deveriam focar em tornar-se um profissional de eSports, no centésimo vídeo lancei o projeto do Midas Club para inscrições.
A idéia era a seguinte, teríamos as pessoas pagando para aprender com os profissionais, com isso temos a entrada de dinheiro para que eles joguem na liga, além do mais, as pessoas escolhem seus professores, com isso cada vez mais os jogadores querem jogar na liga e transmitirem suas partidas, para mostrarem para o público que tem potencial para ensiná-los.
Então, sim, uma liga aonde os jogadores de elite jogam e conseguimos fomentar a criação de times, porém por trás disso você precisa desenhar toda a visão de 360 graus do cenário e trabalhar no longo prazo.
RC – Então os apoios iniciais foram dos próprios jogadores de topo da scene brasileira, que decidiram investir o seu tempo a ensinar aos demais jogadores?
FA – O apoio inicial foi de toda a comunidade, que abraçaram a idéia e estavam dispostos a pagar por essas aulas. Muitas pessoas inclusive pagaram e não participaram das aulas, mas disseram que queriam só ficar no nosso grupo para acompanhar o que é falado e poder apoiar o cenário.
Também foi possível pelos jogadores de alto nível que abraçaram a idéia, no começo foi difícil de convencê-los, mas tivemos por exemplo o Tavo (que atua na SG) como um dos professores e agora que o projeto se mostrou sólido a busca para ser um dos professores está muito alta.
RC – Fantástico! E quanto a apoios exteriores à comunidade? Houve algum tipo de patrocínio, alguma empresa ou produto dispostos a investir no desenvolvimento do Midas Club?
FA – Sim, a pergunta é muito boa pois eu não poderia esquecer de citar os patrocinadores que fizeram com que isso fosse possível. A BestGamers nos forneceu periféricos Razer para premiações de nossa liga, assim como a Pichau Informática se responsabilizou pelos nossos custos de infra-estrutura. Sem o investimento dessas empresas nos eSports, o Midas Club hoje não existiria.
RC – Ou seja, o projecto nasceu não só de um envolvimento proactivo da própria comunidade, como também de investidores já atentos ao mercado de eSports e à scene brasileira… E depois desses treinos, dessas aulas, como foi surgindo a liga? Quantas equipas alinharam?

FA – Temos nomes de empresas junto, porém eu gosto sempre de reforçar que foi algo 100% da Comunidade, o sócio-diretor da BestGamers é um jogador de DOTA 2, assim como um dos responsáveis pelo Marketing da Pichau. São amantes dos eSpots que ouviram a proposta do Midas e acreditaram no cenário, assim como o restante da comunidade.
A liga do Midas em si foi sempre focada em jogadores solo, para que lá eles interagissem com novos jogadores e que assim novos times sejam formados. Para os times formados fizemos uma parceria com a LBEE, de forma que todos os jogadores que pagaram pelas aulas no Midas teriam inscrições gratuitas para seu time.
Tivemos um total de 9.000 jogadores na liga do Midas (free e pagantes) e 140 times participantes da nossa primeira edição da liga amadora em parceria com a LBEE (Liga Brasileira de Esportes Eletrônicos).
RC – Isso são números fantásticos para um projecto a arrancar! Mas então os jogadores inscreviam-se consoante as suas posições e as equipas eram formadas aleatoriamente?

FA – Nós utilizamos uma plataforma que tinha a opção de colocar a função in-game, mas essa funcionalidade não foi utilizada para a temporada que tivemos, foi muito mais feito pela comunicação entre os jogadores e decisão para formar as partidas, o legal é que sempre havia um consenso, visto que aqueles de nível um pouco abaixo estavam dispostos a jogarem de suporte para ter oportunidade de jogar com os de nível mais alto. E os de nível alto ao ver um suporte prestativo davam as informações necessárias para a evolução desse jogador de nível mais baixo.
As equipes para as partidas eram aleatoriamente formadas, visto que era uma liga individual. Mas com isso algumas relações foram estreitando-se e times sendo formados.
RC – Excelente! E, convenhamos, com moldes muito pouco habituais. E dessa Liga até à formação de uma equipa para competir internacionalmente, como é que o processo foi conduzido?
FA – É um processo bem delicado, o qual inclusive eu estou surpreso com os resultados em tão curto prazo. É bom ressaltar que temos inclusive mais de uma line-up, começamos com uma com jogadores formados dentro da liga, esse time tem evoluído bastante.
Outro, que é o atual Midas Club Elite, fui abordado pelo antigo manager de uma antiga organização Brasileira, ele estava com salários atrasados e não tinha como apoiar mais seus jogadores (que também jogavam na liga). Vendo a estrutura do Midas, sentamos e conversamos como poderíamos ajudar o time, definimos um cronograma de aulas que os jogadores do time comprometeram-se a cumprir e com isso conseguimos levantar recursos para ajudar esse time também.
Acho que a parte mais importante para montar-se um time de nível internacional em um cenário tão instável como a América do Sul é encontrar 5 jogadores que se dão bem juntos, e que tem a mentalidade de buscar resultados no longo prazo.
RC – E daí se fez uma equipa competitiva, numa das regiões em que o nível competitivo do Dota 2 é considerado inferior… Certo é que, desta vez, o convite surgiu para os grandes palcos, não é?
FA – Sim, ainda é uma região de nível considerado inferior, mas acredito que daqui para frente os resultados tendem a aparecer. Não é algo imediato, mas temos que levar em conta que jogamos com uma média de 150ms em partidas NA, e finalmente poderemos jogar no nosso servidor próprio.
Isso não significa que somos melhores que os outros times, ou que estamos já no mesmo nível. Mas com isso poderemos jogar campeonatos em LAN e com isso aos poucos crescermos o nível da nossa região, para quem sabe um dia sonharmos com um direct invite.
RC – Com 8 equipas dos Open Qualifiers pela frente e apenas com os SG como equipa de peso, há uma forte probabilidade de termos o Midas Club a passar à fase seguinte… Já pensaram bem nisso?
FA – O sonho com certeza existe! Iremos dar o nosso máximo para conquistarmos o título, mas ainda nos vemos abaixo do nível da SG e inclusive das equipes Peruanas. É o momento de adquirirmos experiência, expormos nossa imagem para o mundo e conseguir mais apoio para o nosso projeto. Vale lembrar que as equipes mais fortes peruanas Not Today e Infamous tiveram trocas recentes de roster e por isso não receberam o convite. Elas devem passar sem dificuldades pela Open e serão adversários muito difíceis na Closed.
RC – E, confessa, já vos passou pela cabeça fazer um brilharete, nesta vossa estreia pelos grandes palcos, não? Afinal, Dota 2 tem sido profícuo em equipas que, pisando pela primeira vez os grandes palcos, chegam longe numa competição… É uma ideia presente na equipa?
FA – Passar pela cabeça, sim. Sendo mais exato, todos os dias. Eu tenho uma rotina diária buscando a maior produtividade e maior foco em minhas metas no dia a dia, e todo dia eu tento me imaginar realizando a maior meta, que é o momento da conquista de um Major.
Mas sei que teremos que vencer muitas batalhas ainda para chegar nesse dia, o sonho existe, mas ainda estamos engatinhando em busca dele.
RC – Em todo caso, em tão pouco tempo chegar a este dia e ver ali um convite é sinal de que estão, certamente, no caminho certo. Muito obrigado pelo teu tempo e ficam os votos de um EXCELENTE Major! Espero ver-vos no palco principal!
FA – Eu que agradeço! Agradeço pelo interesse dos nossos amigos de Portugal em acompanhar o cenário Brasileiro de DOTA e conto com a torcida de vocês, espero um dia também ver um time Português brilhando, ou porque não uma mistura? Assim como vimos o Fox ter um ótimo desempenho com os Brasileiros da SK no CS:GO
 
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Crónica do Rubber Chicken pela mão do Ricardo Mota
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