Na passada Lisbon Game Conference, houve um painel que se dedicou a debater os eSports. Fica desde já o aplauso pela escolha dos elementos do painel. Com o conhecido jogador/caster de Counter-Strike: Global Offensive Nuno ‘Bht’ Silva, o Presidente dos GrowUp Gaming Telmo Silva, o CEO da organizadora de eventos NPC João Semedo e o responsável pelos eSports no Sporting Clube de Portugal Pedro Silveira moderados por Paulo Bastos, o painel apresentou sectores distintos do mundo dos eSports com nomes incontornáveis na scene portuguesa, em termos de dimensão e responsabilidades.
Uma das questões abordadas e mais longamente debatidas prende-se com as perspectivas de evolução do mercado de eventos de eSports em Portugal. Os níveis competitivos foram evoluindo, mas parece difícil antever um evento de dimensões internacionais em Portugal. Os investimentos escasseiam, por falta de dinheiro, por falta de puro conhecimento do que são os eSports e o seu mercado ou porque não se antevê o necessário e esperado retorno desse investimento. O Sporting Clube de Portugal terá dado um passo importante ao fincar pé neste terreno inexplorado em terras lusas, ao ser a primeira equipa Portuguesa com um projecto na área dos eSports a ver a luz, o que abrirá portas para novas instituições desportivas e, sobretudo, para a entrada de novos patrocinadores no mercado.
Discutida que foi a falta de apoios que limitam o alcance daquilo que tem vindo a ser feito e se pretende vir a fazer, fica a questão: para quando um evento grande, a ponto de colocar Portugal no mapa do panorama internacional de eSports? É possível estimular os eSports nacionais olhando de dentro para fora, fazendo e promovendo o país e os eSports portugueses lá fora! E será esse o factor determinante para se sair da proverbial cepa torta. Não que o que temos por cá seja mau. Mas é pouco. E o mercado estritamente nacional não chega, de momento, para encher um estádio. Há muitos gamers, de facto. Mas nem todos eles são adeptos de eSports e entre estes, culturalmente, há pouco o hábito de assistir a eventos de eSports. As razões serão muitas e se se aponta o dedo à cultura há que assumir também a responsabilidade pelo desenvolvimento da mesma. Urge então uma mudança de paradigma. A implementação de uma estrutura de organização de eventos competitivos, de eSports, em que o jogo não seja a única coisa a levar a gente “ao estádio”. Criar um conjunto de condições e mais-valias que permita vender a experiência como um todo em vez de apenas assistir a algo que poderia assistir em casa, no conforto do seu lar, através de um dos vários serviços de Stream.
Um evento grande, com equipas de vários cantos do mundo, com condições para receber as maiores equipas do mundo de um ou mais jogos, abrindo as portas a visitantes, a público também de todos os mundos. Um evento que permita a um francês, a um alemão, a um americano vir a Portugal, conhecer o país, a gastronomia e a hospitalidade e passar um bom fim de semana ou punhado de dias mergulhado no ambiente de eSports, com uma experiência a ser trabalhada propositadamente para o receber e que vai muito, muito além de ter apenas os jogos a decorrer num palco. Visitas ao backstage, catering, entrevistas e autógrafos com os jogadores, acesso a merchandising exclusivo para os visitante e um conjunto de outras estratégias que permitem, em primeiro lugar moldar aquilo que se pretende que sejam os eSports e, em segundo lugar, injectar um pouco da cultura que enche estádios em eventos de eSports noutros países na nossa. Mudar as mentalidades do nosso público e criar o hábito, criar essa ligação aos eSports e às experiências únicas que estes podem proporcionar. Se é possível esgotar estádios em menos de meia hora noutros países, e com bilhetes a custar largas centenas de euros, também é possível fazê-lo em Portugal. E a receita está dada também. É deixar de olhar apenas para dentro. É fazer algo para o mundo. Em Portugal, mas para o mundo!
Creio que é esse grande evento que falta para agitar de vez as águas dos eSports nacionais. O recente IberAnime Invitational, de League of Legends, terá sido um bom passo nesse sentido, como foi o torneio Alientech League de Counter-Strike: Global Offensive… São bons passos, ainda que tímidos, para o que se pretende. Falta pegar neste momentum e aproveitá-lo.
Clica AQUI para reveres a conferência.
Crónica do Rubber Chicken pela mão do Ricardo Mota
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