Estivemos à conversa com Hélder “coachi” Sancho para saber como estão a correr as preparações para o Minor Americano que vai ser jogado este mês e ainda conhecer a opinião deste em relação às mudanças e rumores relativos aos Vodafone Giants.

Olá coachi. Os sharks vão jogar o Minor em Berlim nos próximos dias 17 a 21 de julho. Como estão a correr as preparações?
coachi: As preparações estão a ser as normais, temos feito cerca de 9/10 horas de treino diárias, tático pela manhã, treinos com as melhores equipas do mundo pela tarde, 5 ou 6 mapas por dia, depende. Temos feito trabalho psicológico, preparação individual, o normal, não há muito por onde inventar nesta parte do CS.

No final do ano passado tiveram uma evolução muito boa, conseguindo chegar a #22 do ranking mundial. No entanto, este ano não está exatamente a ir de encontro às expectativas, tendo tido resultados menos positivos. Como estão a lidar com a presente situação?
coachi: Não diria que está a ser tão negativo. É claro que nós o ano passado acabámos com um dezembro muito forte, ficar em 3º/4º num torneio de nível internacional muito grande, jogar uma meia-final com G2 e ganhar o primeiro mapa, ficar em 9º na ESL Pro League Finals… acabámos muito fortes. Este ano tivemos um momento negro, que foi devido a estar a tratar de vistos de jogadores no Brasil, tivemos de passar muitos meses lá, o que prejudicou a nossa preparação para os torneios porque quando a equipa está no Brasil não se concentra da mesma forma, não treina da mesma forma… é um bocado difícil porque já está na cabeça dos jogadores que o treino a sério é aqui na Europa e acabámos por perder algumas vagas. No entanto, tivemos um 3º/4º lugar na Dreamhack Rio de Janeiro, que foi justo, ganhámos à número 15 do mundo na altura, Valiance (agora CR4ZY) e acabámos por perder nas meias-finais com os FURIA, que acabaram por chegar ao Top 5 mundial, ou seja, uma equipa muito forte também. E visto que agora nos classificámos para o Minor, eu diria que está a ser um ano positivo, que obviamente podia ter sido melhor se não tivéssemos aqueles problemas de vistos.

Apesar do balanço ser positivo, nunca chegaram a considerar nenhuma mudança no vosso lineup?
coachi: Há pouca gente que sabe, mas nós somos a equipa mais estável do mundo. Não há nenhuma equipa no mundo que tenha um lineup de 1 ano e 7 meses, ou seja, todas do ranking 150 mundial já trocaram entretanto. Não quer dizer que nós não possamos estar de olho em mudanças, simplesmente até agora não sentimos que houvesse essa necessidade. Sentimos que o problema que tivemos no início deste ano prendeu-se mais com os vistos e sabemos que é um problema recorrente do cenário brasileiro, mas não quer dizer que achemos que seja preciso mudar para dar um step-up. Não significa que não o iremos fazer, é possível, mas até agora não.

Qual o vosso maior problema neste momento, na tua opinião?
coachi: Eu não vejo que nós tenhamos um problema muito grande, mas acho que neste momento o nosso maior problema é o facto de quando estamos a treinar em Portugal a qualidade da internet não é boa, obriga-nos a treinar com um ping muito alto, acabamos por ter a nossa imagem prejudicada em torneios online porque estamos a jogar numa desvantagem muito grande, o que quando se joga contra os melhores do mundo, se tiveres uma desvantagem de ping é logo o suficiente para se notar uma diferença grande. Se formos jogar contra os LDLC em França, por exemplo, eles a jogar com 5 de ping e nós com 50, é óbvio que faz muita diferença e isso prejudica um bocado a nossa imagem e dificulta que consigamos ir atrás de vagas. É um bocado à semelhança do que acontece com os Giants, nunca os vimos a fazer nada online, nem nunca vamos ver a jogarem a partir de Portugal, porque é simplesmente impossível. Nem que peguemos em MIBR ou Astralis a jogarem Open Qualifiers… eles vão acabar por perder também porque a desvantagem é muito grande. Eu acho que, neste momento, esse é o nosso maior problema. Obviamente temos outro, como qualquer equipa, dentro da equipa, táticos, individuais, como tudo… mas isso é o mundo do CS, é andar sempre à procura de corrigir isso.

Os Giants são o tema mais falado dentro da comunidade portuguesa atualmente. Qual a tua opinião em relação à saida de ZELIN e às declarações de MUTiRiS em que disse que este não trabalhava o suficiente?
coachi: Eu fiquei um bocado chocado quando ouvi isso sobre o ZELIN, porque eu sempre fui uma daquelas pessoas que defende a mudança na equipa de topo portuguesa, que neste caso são os Giants. A mim tanto me faz o nome que lhe deem, seja Giants, K1ck… onde quer que estejam MUTiRiS, rmn e fox, é essa a melhor equipa portuguesa, o nome é indiferente e eu defendia que ZELIN tinha de estar nessa equipa. Eu nunca trabalhei com ele, mas fico chocado porque ele parecia um jogador trabalhador, só que eu também não posso dar um insight sobre exatamente o que aconteceu porque eu também não estava lá. Aquilo que posso dizer sobre o que o MUT disse… eu li na RTP Arena que houve muita gente a perguntar se eu ia voltar para IGL, o que não vai acontecer, eu não vou voltar a jogar. Também posso dizer que não trabalharia com eles como coach porque se o fizesse era logo para mandar toda a gente embora e ficar só com um ou dois deles, ou três no máximo, porque é preciso haver mudanças, é preciso haver mais vontade e mais trabalho. Eu não concordo muito com a maneira deles fazerem as coisas, sei que vão apostar outra vez nos mesmos de sempre, sei que o resultado vai ser o mesmo, os Giants não vão fazer nada para o ano, não interessa a line-up que eles apresentem agora. Os portugueses vão ficar hyped, no primeiro mês vão trabalhar, vão conseguir um ou outro resultado bom e depois vamos ver mais do mesmo. Enquanto não houver uma mudança a sério, o projeto vai continuar igual.

Apesar de MUT ter dito que se encontravam atualmente à procura de um quinto jogador, sendo o Cunha um dos principais apontados para preencher o lugar vazio, estão também a considerar opções espanholas. O que achas desta possibilidade de jogarem com o jogador dos k1ck ou até de alterarem um pouco a forma de comunicação com um jogador espanhol?
coachi: Eu por acaso gostei muito do nome do Cunha, porque ele é um dos jogadores que sempre que eu vou a um torneio vem falar comigo, perguntar coisas, mostrar interesse, falar de CS e isso é bom… é algo que não acontece muito nos jogadores do top português, ou seja, vê-se que é um miúdo com vontade, que quer fazer diferença e chegar ao topo. Eu tenho essa ideia, sem nunca ter trabalhado com ele, obviamente. No entanto, a minha dúvida é: será que ele tem firepower suficiente para o nível de jogo que os Giants querem? Claro que não é fácil, mesmo entre os melhores eu acredito que a maior parte dos jogadores não tem firepower suficiente para andar no topo, ou seja, será que Cunha tem? Pode ser que até tenha, percebes, pode ser que até seja uma boa surpresa, mas não sei se o vai ser. Mas a situação dos Giants é muito ingrata, porque realmente não há escolha, não há talento. A malta gosta de dizer “não, não, há muito talento em Portugal, há isto, há aquilo”… não há, não há talento, não há talento a aparecer em Portugal, não há um Zyw0o a aparecer, ou um ropz… Ah porque fica bonito, e vocês vão ouvir toda a gente a dizer que há muito talento em Portugal porque fica bonito dizer, as pessoas gostam de ouvir. Mas isso é a mesma coisa que a Hungria dizer que há muito talento no futebol Húngaro – ele só não aparece, mas há! Só que no CS português não há talento, não aparece e não há trabalho! O talento mostra-se e o trabalho vai lapidá-lo, mas é uma situação ingrata, por isso eu não sei bem onde os Giants poderão procurar.

E se decidirem optar por uma solução espanhola e tiverem de alterar a parte da comunicação, achas que a situação vai continuar semelhante?
coachi: A verdade é essa, o que estou a dizer para o CS português aplica-se também ao CS espanhol, não há talento em Espanha. É o quê, é o mixwell? Mesmo o lowel é um jogador mediano, é um jogador que mais cedo ou mais tarde vai ser mandado embora dos Hellraisers, ou seja, o mixwell foi agora para os Cloud9 e pronto, é um bom jogador, mas não é um de tala mundial que vá ganhar torneios para a equipa onde pare. Espanha, neste momento, sofre do mesmo problema de Portugal e eu não sei de onde é que esses problemas aparecem. Não sei se é por termos um bom clima e os jovens gostam mais de fazer outras coisas do que jogar CS… não sei de onde é que vem essa falta de talento, mas a verdade é que a realidade do CS, tanto português quanto é espanhol, é essa e por mais que se tente procurar desculpas, a dizer que não trabalham bem, etc.. não é, faltam aparecer jogadores como o fox. O fox é o grande exemplo, o fox tem talento, há 20 anos que é um jogador que vai lá fora. Não quer dizer que trabalhe como os melhores do mundo, mas tem talento para chegar lá e dar bala nos melhores do mundo. E é isso que falta a Portugal, é preciso aparecerem mais fox’s.

Queres deixar algumas palavras para os fãs portugueses?
coachi: Eu gostava que os fãs portugueses estivessem comigo e com os Sharks porque carregar a bandeira portuguesa neste evento é um sonho não só para mim, mas também para todos os portugueses. É óbvio que não é o cenário ideal para os portugueses ter cinco jogadores brasileiros a competir por uma organização portuguesa no Major, mas se estiver lá eu como treinador português da equipa a carregar a bandeira nos ombros, estiverem lá os Sharks com a bandeira portuguesa ao peito, eu acho que é o mais perto que Portugal tem neste momento de ter uma equipa por quem torcer no Major.

Quero agradecer ao Hélder pelo tempo dispensado para responder às minhas questões, assim como desejar boa sorte aos Sharks para o Minor! Podem seguir o trabalho do treinador português no Twitter.

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